Petrobras admite perdas de R$ 50,8 bi por corrupção e gestão ruim

Com cinco meses de atraso, a Petrobras publicou os balanços auditados do terceiro trimestre de 2014 e também o do ano completo. A empresa admitiu uma perda de R$ 50,8 bilhões por causa da corrupção, desvios apurados na Operação Lava Jato, e por má gestão, nas decisões e projeções erradas.
A companhia registrou no ano passado um prejuízo de R$ 21,5 bilhões, o primeiro resultado negativo desde 1991, segundo a Consultoria Economática.

O balanço foi aprovado por auditores externos e inclui as perdas com a corrupção que, segundo a Petrobras, somam mais de R$ 6 bilhões.

Além dos prejuízos causados pela corrupção, o presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, reconheceu que problemas de gestão e falhas de planejamento também contribuíram para a enorme desvalorização de algumas obras da empresa.

A Petrobras perdeu R$ 44,5 bilhões no valor de seus investimentos, desse total, quase R$ 31 bilhões foram em consequência do cancelamento de parte dos projetos nas refinarias Abreu e Lima, em Pernambuco, e Comperj, no Rio de Janeiro.

O balanço anual saiu com atraso porque os auditores se recusavam a assinar as contas do terceiro trimestre sem os cálculos dos prejuízos com esquema de lavagem de dinheiro e evasão de divisas investigado pela Operação Lava Jato, mas um atraso ainda maior, poderia obrigar a Petrobras a pagar antecipadamente aos credores cerca de US$ 110 bilhões que a empresa tem em dívidas, nos cálculos da agência de risco Moody's.

Para o presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, o anúncio representa uma nova fase da companhia. "Estamos dando um passo fundamental em direção ao pleno resgate da credibilidade da Petrobras junto aos seus acionistas, fornecedores, ao mercado e à sociedade", disse.

O especialista em energia Adriano Pires diz que os números divulgados já eram esperados pelo mercado. "Ele traz de maneira bem transparente o estrago brutal que foi feito na empresa".

Positivismo

Outros analistas afirmam que a publicação dos balanços abre caminho para a recuperação da empresa.

A avaliação da Eurasia Group, uma das maiores consultorias de risco político do mundo, é que, apesar do prejuízo ter sido maior que o esperado, o balanço auditado melhora as expectativas dos investidores e reduz o risco da nota de crédito da Petrobras ser rebaixada.

Analistas dizem que a divulgação do balanço da Petrobras representa um trunfo importante, mas insuficiente para a empresa sair da crise. Para isso, será preciso enfrentar outros desafios e o principal deles é reduzir o endividamento.

A dívida da Petrobras hoje se aproxima dos R$ 300 bilhões, já a geração de caixa anual é de R$ 59 bilhões, ou seja, para quitar a dívida, a Petrobras teria que acumular quase cinco anos de caixa. O limite de endividamento aceito pelas agências de rating, para empresas com grau de investimento, é praticamente a metade disso.