Vítima de 56 anos chorou ao relembrar caso ao Correio do Estado

“Pessoas como você não entram por aí”, ouviu cozinheira barrada em prédio
Caso foi levado à Depac Centro / Foto: Arquivo

A cozinheira Fátima Aparecida Gomes, de 56 anos, procurou a Polícia Civil para denunciar caso de racismo. No último dia 05, ela foi impedida de acessar o elevador social de um condomínio localizado na Rua Quinze de Novembro, no centro de Campo Grande. “Pessoas como você não entram por aí”, ouviu de um funcionário que a constrangeu, obrigando que ela usasse o elevador de serviços. Abalada com a situação, a vítima afirmou que vai acionar a justiça em defesa também de outras mulheres negras alvos de discriminação. “A gente não sabe pelas coisas que passam as mulheres que trabalham ali”, disse.

Chorando, ela relatou por telefone ao Correio do Estado como tudo ocorreu. Na data dos fatos, Fátima foi ao prédio entregar alguns panetones à irmã de sua empregadora, como de costume. “Eu sempre fui lá levar bolos e tortas. O porteiro me conhecia e nunca tive problemas para entrar”, relatou. Desta vez, ela explicou que passou pela portaria, cumprimentou o porteiro que foi gentil como em outras vezes e entrou. “Ali só entra quem tem autorização expressa dos moradores e eu estava autorizada”. No entanto, no caminho até o elevador social ela foi abordada por outra pessoa que trabalhava no pátio.

“Um homem chegou em mim e disse: pessoas como você não entram por aí. E então me levou para o elevador de serviço. Ele foi muito mal educado, e me tratou de forma ríspida. Me senti muito mal, foi um constrangimento grande, porque ele nunca tinha me visto na vida e me julgou pela aparência”, lamentou. Fátima ficou por cerca de cinco a dez minutos esperando o elevador de serviço e quando ele chegou, estava lotado de mudança. “Foi uma falta de respeito muito grande o que fizeram. Demorei tanto para absorver, que cheguei a não acreditar e fui embora sem entregar a encomenda”.

A cozinheira comunicou o caso à empregadora e recebeu apoio, sendo encaminhada para registro de boletim de ocorrência na Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário (Depac) do Centro. Ela garante que vai levar o caso à justiça, para impedir que outras mulheres negras sejam alvo da mesma injustiça. “Eu defendo a causa e participo de projetos. Sou uma pessoa com informação, mas fico preocupada por aquelas que não conhecem seus direitos e admitem este tipo de tratamento preconceituoso para garantir um trabalho. Eu prometi que nunca mais vou voltar naquele prédio”, concluiu.