O assunto abordado ao longo da última quinta-feira (21/5), em São Paulo, durante a inédita Reunião Científica de Pesquisadores em Papilomavírus Humano e Coinfecção HPV/HIV é extremamente contundente: o papilomavírus humano (ou HPV) é hoje a mais comum infecção sexualmente transmissível do mundo e a principal causa do câncer de colo de útero, o qual cerca de 500 mil mulheres a cada ano, globalmente.

Ao longo de todo o dia, mais de 40 dos maiores pesquisadores das Américas nessa área debateram as prioridades inerentes à infecção por HPV – com foco na América Latina, e especialmente entre indivíduos vivendo com HIV, pois as duas infecções interagem e se agravam mutuamente.

“Esta reunião é uma marco para o início da construção de uma rede entre os países aqui presentes e uma reflexão sobre as lacunas de pesquisa existentes”, disse a diretora-adjunta do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais (DDAHV) do Ministério da Saúde, Adele Benzaken, ao fim do encontro – uma iniciativa conjunta da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS), do Ministério da Saúde do Brasil e do Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos (National Cancer Institute/National Institute of Health – NCI/NIH).

Segundo Adele, de posse desses gaps identificados, os pesquisadores da área podem começar a pensar em propor a realização de pesquisas que foram apontadas como necessárias durante a reunião.

Ainda que o Brasil tenha sido o primeiro grande país a promover a vacinação anti-HPV em larga escala, estudos para avaliar o impacto da vacinação são urgentes para o país: as nações em desenvolvimento são as mais vulneráveis à infecção e abrigam 80% dos casos.

Atualmente, aproximadamente 40 tipos de HPV infectam os seres humanos, tanto mulheres como homens.

Os tipos de HPV são classificados como de “alto risco” e “baixo risco” de acordo com seu potencial de oncogênese.

Outras manifestações clínicas incluem condilomas ano-genitais e câncer ou lesões pré-cancerosas no pênis, região anal, vulva e colo de útero.

“Quando o Brasil adotou a vacinação, o fez em grande escala – e conseguiu lograr a maior cobertura vacinal já alcançada para a primeira dose da vacina anti-HPV”, lembrou o especialista Eduardo Franco, da McGill University em Montreal, Canadá, ao comentar o protagonismo brasileiro entre os países das Américas.

De acordo com Franco, o programa cronológico do Brasil de extensão da vacina anti-HPV a outros grupos da população vai “trazer benefícios enormes” à pesquisa e à redução da doença no mundo.

MULTIDISCIPLINARIDADE

Entre os temas abordados durante a Reunião Científica de Pesquisadores em HPV, o status quo da coinfeção HPV-HIV em países da América Latina e Caribe; a epidemiologia, a patogênese e a história natural do HPV; sua prevenção primária e secundária, manejo e tratamento; as políticas de saúde pública referentes ao agravo; as informações estratégicas que afetam sua abordagem; a coinfecção HPV-HIV; a vacinação anti-HPV e a prevenção primária em indivíduos infectados pelo HIV.

Para o representante do Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos, Vikrant Sahasrabuddhe, o encontro atingiu os objetivos propostos.

“Houve uma excelente e multidisciplinar troca de ideias, bem como uma intensa disseminação das pesquisas e atividades de implementação que estão sendo realizadas na região – cada pesquisador oferecendo dados de sua especialidade e todos contribuindo para o quadro maior, de combate global ao HPV”, comentou.

O encontro reuniu especialistas do Brasil, dos EUA, da Colômbia, do Canadá, da Argentina, das Bahamas, do Peru, do Uruguai e do Reino Unido.