Operações da Polícia Federal mostram que facção criminosa tenta driblar o órgão que alerta sobre movimentações financeiras.

PCC tem "medo" do Coaf e fraciona depósitos para movimentar milhões
Dinheiro apreendido com integrante do PCC em Campo Grande. / Foto: Divulgação/PM

Cravada e Caixa-Forte: operações da Polícia Federal realizadas em 6 e 9 de agosto contra facção criminosa evidenciam que não é só político que teme o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras). O PCC (Primeiro Comando da Capital) também tenta driblar o órgão que alerta sobre movimentações financeiras e fraciona os depósitos dos lucros do crime em centena de contas.

Coordenada pela PF do Paraná e com mandado de prisão em Dourados, a operação Cravada identificou o uso de 418 contas bancárias para fazer o dinheiro circular sem chamar a atenção. Cada uma era usada por até quatro meses. A estimativa é que a movimentação financeira chegasse a R$ 1 milhão por mês.

O método de depósito fracionado também foi identificado pela Caixa-Forte, realizada pela Polícia Federal de Minas Gerais. A ação cumpriu mandados em Campo Grande e Corumbá. A pulverização dos depósitos, com pequenas quantias e em diversas contas, é para não identificar o depositante e não ativar os gatilhos de comunicação de atividade suspeita ao Coaf.

A investigação identificou 45 contas bancárias, todas bloqueadas e com os valores sequestrados judicialmente. A movimentação financeira ultrapassou R$ 7 milhões.

Por lei, setores da economia devem informar ao Coaf sobre movimentações financeiras suspeitas de lavagem de dinheiro ou de financiamento do terrorismo. Os ilícitos mais identificados são corrupção, tráfico, fraude e sonegação fiscal. Obrigatoriamente, transações em espécie acima de R$ 30 mil também precisam ser comunicadas.

Suspenso - No mês passado, a pedido do senador Flávio Bolsonaro (PSL/RJ), o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Dias Toffolli, determinou a suspensão em território nacional de processos que versem sobre o compartilhamento, sem autorização judicial e para fins penais, de dados fiscais e bancários detalhados de contribuintes.

Filho do presidente Jair Bolsonaro (PSL), o senador passou a ser investigado após relatório do Coaf apontar movimentações suspeitas de Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro), além de 48 depósitos de R$ 2 mil.

Em Mato Grosso do Sul, a decisão de Toffolli levou a corrida contra as investigações, incluindo tentativa de suspender a Lama Asfáltica, a maior operação contra corrupção envolvendo políticos.