Hoje ela é comerciante, mãe de 4 e fala da vida com poesia de rua.

Para não perder o segundo filho, Luana venceu o desafio de superar as drogas
Luana é exemplo de superação e luta pela união da família. / Foto: Paulo Francis

Aos 16 anos, Luana Rabelo Peralta, perdeu boa parte da adolescência para a pasta base de cocaína. Sem conversa com os pais severos, ela se definia na época como adolescente rebelde, arredia às regras, de mente fraca e sem informação.

Ao Lado B, ela conta que o primeiro contato com as drogas foi na rua, no meio de colegas no bairro Maria Aparecida Pedrossian, em Campo Grande. Luana decidiu sair de casa muito cedo e aos 16 anos já conhecia a realidade das ruas. 

"Em casa nunca houve um diálogo aberto sobre drogas, sexo e os perigos que a vida podia trazer, e isso influenciou bastante no meu desenvolvimento. Me tornei uma menina inconsequente e egoísta", avalia.

Longe da família e dependente das drogas, não demorou muito para a primeira gravidez, já aos 17 anos. Ela diz que durante os seis primeiros meses foram dias e noites sem dormir, a única coisa que pensava era em usar a pasta base. "Não pensava em nada e ninguém. Era dia e noite usando e eu não me preocupava nem com a criança que estava na minha barriga", admite.

O pai do menino seguia no mesmo caminho e os dois viviam em uma casa sem condições minimas de sobrevivência. "Naquela época não ligava se tinha onde dormir ou se iria comer, estava tão dependente que nada importava", diz.
 
Quando o primeiro filho completou dois anos, a mãe de Luana foi até a filha. "Minha mãe chegou na casa onde morávamos e eu estava usando base com meu filho do meu lado.

Ela me pediu para levar ele, pois queria cuidar. Eu deixei, porque sabia que não estava em condições de ficar com ele porque estava invernada nas drogas, e com o tempo dei o filho para ela de papel passado, porque naquela época seria um peso pra mim ".

A menina que se tornou mulher antes do tempo, descreve o que é a vida de um dependente químico. "Quando você usa esse tipo de droga, perde totalmente a essência do que você é e do sentido da vida, não tem mais sonhos porque você acorda fumando, vai dormir fumando e é assim o tempo todo. E foram três anos afundada nesse mundo".

Após o tempo entregue à pasta-base, Luana conta que chegou ao fundo do posso. "Cheguei a pesar 52 quilos, morava de favor, passava fome e frio e acabei engravidando de novo. E para completar o pai também era viciado", relata.

Na segunda gestação, a situação já tinha fugido do controle e quando Luana descobriu que vinha outra criança, logo pensou. "Não quero perder de novo meu filho, então vou parar de usar droga". Ela decidiu por conta própria se livrar da pasta base e começar uma nova história. "Tirei essa força do amor de ser mãe. Quando percebi que já tinha perdido um filho e não queria perder outro", afirma.

Sem casa ou emprego, Luana teve ajuda de uma tia que ela considera como mãe hoje. "Quando todo mundo foi contra, ela enfrentou todos e me aceitou na casa dela com minha filha que na época tinha três meses e foi onde consegui dar a volta por cima", esclarece.

Luana voltou a estudar e na escola conheceu o terceiro e atual marido, Adaldo. "Todos me questionaram como eu poderia estar grávida e me casar com outro cara, ele por sua vez me aceitou e quando minha segunda filha nasceu ele a tratava com todo carinho e atenção".

Os dois se separaram após 6 anos, voltaram, e hoje continuam juntos, com 3 filhos em casa.

A mulher que conheceu as drogas muito cedo, abriu um quiosque em um vagão próximo a Morada dos Bais e se considera vencedora. "De tudo que passei, aprendi a ser resistente e hoje ninguém pode me parar", declara.

Luana faz parte do movimento poesia de rua em Campo Grande fez uma um texto que narra a história da mãe solteira, e em todas as vezes que declama, se emociona ao lembrar de tudo que passou.

"Mãe, ser mãe, mãe de quatro filhos de três pais diferentes. O julgamento é constante. A mãe, essa abre as pernas igual quando sorri para mostrar os dentes, que mulher indecente. O pai, o pai é garanhão, paga uma miséria de pensão e é visto como paizão. Sim, sou a mãe de quatro filhos de pais diferentes. Quando engravidei do primeiro era dependente de um melado que fazia minha mente. Dei meu filho para avó para ter um futuro descente. Depois de um tempo larguei o vício, tive mais três e a vida continua. Escola, saúde, educação, alimentação, atenção... Ufa, quanta função! Sou mãe de quatro filhos de pais diferentes. Ser mãe é aprendizado constante, é pensar que chegou o seu limite a todo instante. Mas ser mãe também lindo é amor mais puro sincero e bonito. Só para constar não dou ibope para os pais, porque no meu caso de três pais diferentes apenas um se mostra presente. Mãe presente".