O organismo das Nações Unidas também alertou para o aumento da violência de gênero e outras práticas nocivas contra mulheres nos próximos meses.

Pandemia pode prejudicar acesso de mulheres a contraceptivos, alerta UNFPA
Quarentena pode fazer com que 47 milhões de mulheres em 114 países fiquem sem acesso a contraceptivos, resultando em 7 milhões de gestações não intencionais. / Foto: EBC

O isolamento social provocado pela pandemia de COVID-19 pode prejudicar o acesso de mulheres do mundo todo ao planejamento reprodutivo, o que deve ocasionar gestações não intencionais, alertou o Fundo de População da ONU (UNFPA) na quarta-feira (29).

O organismo das Nações Unidas também alertou para o aumento da violência de gênero e outras práticas nocivas contra mulheres nos próximos meses.

O estudo revela o enorme impacto que a COVID-19 está tendo entre as mulheres, enquanto os sistemas de saúde ficam sobrecarregados, as unidades de saúde fecham ou só fornecem serviços limitados para mulheres e meninas, e muitas escolhem não realizar check ups médicos por medo de contrair o vírus.

 
Perturbações nas cadeias globais de suprimentos também podem levar à escassez significativa de contraceptivos.

A agência da ONU também prevê aumento da violência de gênero, uma vez que as mulheres estão em casa por períodos prolongados, muitas vezes, ao lado de agressores.

"Esses novos dados mostram o calamitoso impacto que a COVID-19 pode ter brevemente sobre mulheres e meninas globalmente.

A pandemia está aprofundando as desigualdades, e milhões de mulheres e meninas estão arriscando agora sua capacidade de planejar suas famílias e proteger seus corpos e sua saúde", afirmou Natalia Kanem, diretora-executiva do UNFPA.

"A saúde reprodutiva das mulheres e os direitos precisam ser resguardados a todo custo. Os serviços precisam continuar; os insumos precisam ser entregues; e as pessoas mais vulneráveis precisam ser apoiadas e protegidas."

Projeções-chave:
47 milhões de mulheres em 114 países de média e baixa renda podem não conseguir acessar contraceptivos modernos, e 7 milhões de gestações não intencionais são esperadas se o isolamento social e/ou quarentena geral continuar por seis meses e se houver maiores interrupções a serviços de saúde.

A cada três meses de confinamento, mais de 2 milhões de mulheres podem não ter acesso a contraceptivos modernos.

31 milhões de casos adicionais de violência baseada em gênero podem ser esperados se o confinamento continuar por no mínimo mais seis meses. Para cada três meses que a medida continuar, são esperados mais 15 milhões de casos adicionais de violência baseada em gênero.

A COVID-19 vai interromper os esforços para acabar com o casamento infantil, potencialmente resultado em um número adicional de 13 milhões de casamentos infantis ocorrendo entre 2020 e 2030, que de outra forma poderiam ter sido evitados.

O Fundo de População da ONU está trabalhando com governos e parceiros para priorizar as necessidades de mulheres e meninas em idade reprodutiva e para responder com urgência durante a desafiadora emergência de saúde pública.

As prioridades são o fortalecimento de sistemas de saúde, a aquisição e entrega de equipamentos para proteger trabalhadores de saúde, garantindo acesso à saúde sexual e reprodutiva e serviços de violência baseada em gênero, e promovendo comunicação de risco e engajamento comunitário.

A pesquisa foi conduzida pela sede do UNFPA, com contribuições da Universidade John Hopkins (Estados Unidos), da Universidade Victoria (Austrália) e da Avenir Health.

As projeções foram baseadas em pesquisa recente do UNFPA sobre o que é necessário para alcançar os objetivos da organização até 2030.

Para cada estimativa, pesquisadores projetaram o impacto direto da COVID-19 no assunto em questão e combinaram com a interrupção nos programas de prevenção globais, causada pela pandemia.

Pandemia de COVID-19
A pandemia de COVID-19 está exigindo esforços dos sistemas públicos de saúde, desencadeando medidas sem precendentes por governos ao redor do mundo, incluindo restrições de movimento.

Evidências mostram que surtos de doenças causam enormes impactos em mulheres e meninas. Mulheres são desproporcionalmente representadas nos serviços sociais e de saúde, aumentando o risco de exposição à doença.

Estresse, modibilidade limitada e perturbações no ambiente doméstico também aumentam a vulnerabilidade de mulheres e meninas à violência baseada em gênero e exploração sexual.

E se sistemas de saúde redirecionarem recursos de serviços em saúde sexual e reprodutiva, o acesso das mulheres ao planejamento reprodutivo, pré-natal e outros serviços críticos poderá ser afetado.

O Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) está trabalhando com governos e parceiros para priorizar as necessidades particulares de mulheres e meninas, alinhado com os objetivos de acabar com a necessidade não satisfeita de planejamento reprodutivo e contracepção, as mortes maternas evitáveis e acabar com a violência de gênero e práticas nocivas contra mulheres e meninas até 2030.

"Enquanto medo e incerteza são respostas naturais ao coronavírus, nós precisamos ser guiados por fatos e informações sólidas", afirmou a diretora executiva do UNFPA, dra. Natalia Kanem.

"Nós precisamos nos unir em solidariedade, lutando contra estigma e discriminação, e garantir que as pessoas tenham acesso a informações e serviços de que precisam".