O recente aumento de casos e fatalidades se deve, em parte, ao vírus se enraizar nesses grupos", explicou a diretora da OPAS em coletiva de imprensa.

OPAS pede que países protejam grupos vulneráveis dos efeitos da pandemia
Etienne pediu um melhor acesso a medidas efetivas de saúde pública, o fortalecimento da capacidade do sistema de saúde para melhor atender as populações vulneráveis e uma forte proteção social e econômica. / Foto: Banco Mundial/Alex Baluyut

A diretora da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), Carissa F. Etienne, alertou na terça-feira (19) para os efeitos da pandemia de COVID-19 sobre as populações mais vulneráveis nas Américas, desde pessoas com poucos recursos financeiros até indígenas.

"Se quisermos retardar a propagação da pandemia e colocar nossa região no caminho da recuperação, precisamos proteger os grupos vulneráveis da COVID-19", afirmou.

"O vírus está surgindo em nossa região. Estamos cada vez mais preocupados com pessoas em situação de pobreza e outros grupos vulneráveis com maior risco de doença e morte pelo vírus.

O recente aumento de casos e fatalidades se deve, em parte, ao vírus se enraizar nesses grupos", explicou a diretora da OPAS em coletiva de imprensa.

Mais de 2 milhões de casos e de 121 mil mortes devido à COVID-19 foram relatados nas Américas até 18 de maio – um aumento de 14% nos casos e mortes em relação à semana passada.

Etienne pediu um melhor acesso a medidas efetivas de saúde pública, o fortalecimento da capacidade do sistema de saúde para melhor atender as populações vulneráveis e uma forte proteção social e econômica.

"Durante uma pandemia, devemos superar as desigualdades estruturais que limitam o acesso aos serviços.

Isso significa estabelecer mecanismos que apoiam o acesso universal à saúde, independentemente da renda, reunindo recursos com o setor privado e sem fins lucrativos, eliminando o pagamento no ponto de serviço e instalando hospitais de emergência que agreguem capacidade onde é mais necessário", disse Etienne.

Impacto da COVID-19 em certas comunidades
A diretora da OPAS afirmou que, na bacia amazônica, entre aldeias isoladas de grupos indígenas e cidades densamente povoadas como Manaus, Iquitos e Letícia, a incidência da COVID-19 é duas vezes maior do que em outros municípios (ou províncias) dos mesmos países.

"Sem uma ação imediata, essas comunidades enfrentarão um impacto desproporcional."

Comunidades vulneráveis nas grandes cidades também são duramente atingidas pela pandemia, onde "as más condições sociais e econômicas fornecem um terreno fértil para a COVID-19", juntamente com o impacto econômico das pessoas que perdem seus empregos.

As mulheres, que representam 70% da força de trabalho em saúde nas Américas, também são vulneráveis, pois estão na linha de frente e são desproporcionalmente afetadas pela COVID 19, observou Etienne.

Além disso, elas enfrentam disparidade de renda, acesso inadequado a serviços de saúde e são frequentemente sujeitas à violência de gênero.

"Com muita frequência, deixamos de priorizar a saúde e o bem-estar dos mais vulneráveis entre nós. Isso deve mudar se quisermos parar a disseminação da COVID-19 e estar prontos para enfrentar futuras pandemias", constatou Etienne.

"Afrodescendentes na América Latina lutam para ter acesso a cuidados adequados em circunstâncias normais, um reflexo da discriminação estrutural e da desigualdade racial", o que os coloca em maior risco de contrair a COVID-19 e enfrentar as consequências mais graves da doença, ponderou a diretora da OPAS.

Migrantes em abrigos temporários e pessoas privadas de liberdade em prisões lotadas, com falta de saneamento, também estão em situações vulneráveis e com taxas mais altas de disseminação da COVID-19.

Segundo Etienne, alcançá-los é um desafio especial que os países devem enfrentar.

Um grupo vulnerável importante é composto por pessoas com condições de saúde pré-existentes – como doenças cardíacas, diabetes tipo 2 e obesidade –que "são particularmente suscetíveis à hospitalização, doença grave e morte devido à COVID-19" e que enfrentam interrupções no tratamento de suas doenças porque os sistemas de saúde estão sobrecarregados, disse a diretora da OPAS.

Esse grupo de risco é responsável por cerca de 221 milhões de pessoas nas Américas.

"É apenas garantindo os direitos humanos para todos, quando todos os povos têm acesso universal à saúde e seus determinantes socioeconômicos, quando é assegurada a proteção social para as pessoas mais vulneráveis e quando nosso desenvolvimento econômico abordar a erradicação da pobreza e a conquista do desenvolvimento sustentável. Somente então, o mundo estará preparado para enfrentar futuras pandemias.

Mas precisamos começar esse trabalho agora."