Depois de tantas homens com Transito na Certidão de Nascimento, ele não quis repassá-lo à 5ª geração.

Nome curioso passou por bisavô, avô, pai, mas parou no empresário "Transito"
Transito mostra suas peças, que hoje também são suas paixões.

A história de Transito Jara Filho, de 59 anos, começa com o nome. De origem espanhola, a saga da herança no registro se inicia com o bisavô, segue para o avô, se repete com o pai até pausar na sua vez, pois não quis repassá-lo a seu filho. A identidade incomum por aqui cruzou pelos negócios da família, já que por anos “seu Transito” usou a “rua” para trabalhar.

Transito, sem o acento, nasceu em Paranhos e é o único filho entre 11 mulheres. Depois de deixar o município veio para Campo Grande, em 1978, onde fixou endereço, se casou com Edileuza Maria de Lima Jara e teve três filhos, duas meninas e um menino.

A curiosidade diante do nome foi o ponta pé para a conversa com o Lado B. Para provar à reportagem o quanto o nome é comum na Espanha, o empresário já começou citando a personagem Trânsito Ariza, do livro O Amor nos Tempos da Cólera, de Gabriel García Márquez.
 
Transito explica que se acostumou e hoje gosta muito do nome.
“Meu era pai paraguaio, meu avô argentino e o bisavô espanhol. De todos eu fui o único que levou o “Filho” no sobrenome. Para o meu filho não repassei, ele se chama Douglas”, conta.

Na Espanha, o nome é popular entre homens e mulheres e apesar da semelhança com “trânsito” em português, no país espanhol a pronuncia é com “S”, mesmo.

Hoje, Transito ama seu nome, virou referência, mas nem sempre foi assim. “Quando era criança eu não gostava muito. Tinha que explicar, mas depois comecei a gostar do meu nome. No comércio, quando se fala em Transito, já me conhecem, é difícil esquecer. Na cidadezinha que eu morava o pessoal me conhece mais ainda”, garante.

A rua e Transito - O empenho de boa parte da vida ao serviço público teve uma reviravolta há dez anos, quando a esposa comprou um móvel de madeira de demolição e Transito transformou as ruas em escritório.
 
Na época, o preço do aparador assustou Transito, mas a tendência caiu no gosto do marido rapidinho. “Minha esposa começou a comprar. Aí comecei a me apaixonar também. Como sou de Paranhos, no interior do Estado, e tinha muita madeira guardada me interessei em começar mexer com isso”, conta.

“O primeiro móvel foi um aparador e eu tenho ele até hoje. Eles eram trazidos de Minas, não tinha loja aqui. Eu cheguei em casa com o aparador e ele ficou maluco porque foi cerca R$ 1.300,00. Nesta mesma época, o pai dele estava desmanchando uma casa em Paranhos, a casa onde ele nasceu, então ele resolveu trazer a madeira de lá e foi quando tudo começou”, completa Edileuza.

Os móveis de madeira de demolição, em sua maioria de peroba rosa, não se tratam de peças usadas. Como o próprio nome diz são mobílias fabricadas a partir da matéria-prima de imóveis ou demais estruturas desmanchadas. “As casas antigamente eram feitas para durar”, garante Transito.

“Eu vendia nas ruas, principalmente, na Via Parque. Uma vez a chuvarada arrastou boa parte dos meus móveis. Aqui trabalhamos eu e minha esposa. Mas eu trabalhava de forma informal e dividia a marcenaria para baixar os custos. Como eu fabricava. O que não vendia ia guardando. Comecei a vender bastante e senti o desejo de montar um show room e expor numa loja. Foi quando aluguei aqui”, explica.

Hoje as peças são expostas numa espécie de casarão transformado em loja, no Jardim Paulista.