Em um resultado que surpreendeu pela enormes diferença em relação às pesquisas de opinião, o atual primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, saiu vitorioso das urnas e agora trabalhará para consolidar um quarto mandato. Com praticamente todas as urnas apuradas, o Likud, partido direitista do premier, conquistou 30 das 120 cadeiras do Knesset (Parlamento do país), enquanto a coalizão de centro-esquerda União Sionista, do líder da oposição Yitzhak Herzog, ficou com 24 assentos.

Em terceiro lugar, ficou a grande surpresa dessas eleições: a Lista Árabe Unida (união dos quatro partidos árabes do país), que se tornou a terceira maior força política do país, abocanhando 14 cadeiras. Abaixo dos três primeiros colocados, ficaram Yesh Atid (11), Kulanu (10) e Casa Judaica (8). O tradicional partido de esquerda Meretz, sensação da política local, teve apenas quatro, atrás de Shás, Judaísmo Unido da Torá e Israel Beiteinu.

Netanyahu se reuniu com líderes de vários partidos e afirmou ter a intenção de trabalhar imediatamente na formação do governo, para concluir esta tarefa em um prazo de duas a três semanas, afirma um comunicado do partido do premier direitista

"A intenção é colocarmo-nos para trabalhar imediatamente na formação do governo", indicou o Likud.

Herzog reconheceu a derrota, mas descartou a possibilidade de uma coalizão com o premier.

— Nesta manhã, falei com Herzog e ele me disse explicitamente que vamos para a oposição — contou a parlamentar e ex-líder trabalhista Shelly Yacimovich, que disse estar satisfeita com a parceria realizada com a líder centrista Tzipi Livni, mas lamentou o que considerou um excesso de concessões a seu partido, o Hatnuá (Movimento).

Para o premier, foi uma façanha quase inacreditável. As últimas pesquisas eleitorais davam a ele entre 21 e 22 cadeiras, quatro a menos do que Herzog. Em quatro dias, no entanto, Netanyahu fez uma “blitz midiática”, com entrevistas e aparições em todos os canais de TV e rádio, além de jornais impressos e internet. Fora isso, apelou para a extrema-direita com afirmações polêmicas como a de que não iria, se reeleito, aceitar a criação de um Estado palestino. Acabou “canibalizando” o partido de extrema-direita Casa Judaica, do ministro da Economia Naftali Bennet, que caiu de 12 para 8 cadeiras.

O custo da radicalização de crescente Netanyahu para a direita foi uma cisão ainda maior com os setores árabe-israelenses e a esquerda. Nesta quarta-feira, a Organização para a Libertação Palestina disse ao "Haaretz" que Israel "não é um parceiro pela paz" enquanto Netanyahu estiver no poder.

DANÇA DAS CADEIRAS NO KNESSET

Na matemática do sistema político israelense, só sobe ao poder o partido que reunir uma coalizão de 61 cadeiras no Knesset. O próximo passo será dado, como na tradição, pelo presidente Reuven Rivlin. Ele entrará em contato com os líderes de todas as bancadas eleitas para escutar deles quem indicam para o cargo de premier. Só então decidirá qual candidato terá a chance, primeiro, de tentar montar o mosaico do próximo governo.

— Vamos ter um mês de negociações cansativas para a formação da coalizão. Netanyahu e Herzog estão fazendo caras e bocas, engajados numa guerra psicológica. Mas todos sabem que, no final das contas, vão acabar concordando em governar juntos — acredita o cientista político Mordechai Kedar, da Universidade Bar Ilan.

A Lista Árabe foi a maior surpresa. Com os quatro partidos árabes reunidos, foi vista como fiel da balança enquanto a disputa ainda estava apertada. Nas eleições de 2013, esses quatro partidos conseguiram, separados, juntar 11. Foram auxiliados pelo alto percentual de comparecimento às urnas: 71,8%, o maior desde a década de 1990. A minoria árabe-israelense (15% dos eleitores) compareceu mais do que antes: 68% em comparação com 54%, em 2013.

Outra surpresa foi o recém-criado partido Kulanu (Todos Nós), com 10 cadeiras. Liderado pelo ex-ministro das Comunicações Moshe Kahlon, dissidente do Likud e reverenciado por ter baixado o preço dos celulares, pode servir de fiel da balança. Ou se unir ao Netanyahu e Herzog num governo de união nacional. Outra legenda socioeconômica que se saiu bem foi o Yesh Atid (Há Futuro), do ex-ministro das Finanças, Yair Lapid, que diminuiu de 19 para 12 cadeiras, mas evitou uma queda maior.