Sônia escapou do ciclo de terror após anos de violência psicológica e física e ainda espera por justiça

Mulher relata tortura psicológica e tentativa de feminicídio em Nova Alvorada do Su
Sônia escapou do ciclo de terror após anos de violência psicológica e física e ainda espera por justiça / Foto: TOPMIDIANEWS

Disposta a quebrar o silêncio, Sônia Barcela resolveu relatar com detalhes o relacionamento abusivo que manteve com o ex-companheiro, servidor público de Nova Alvorada do Sul, que culminou em uma tentativa de feminicídio.

Segundo ela, a primeira vez que buscou ajuda psicológica aconteceu após um episódio de tortura emocional: “Ele atropelou o meu gatinho de estimação e me culpou e disse: ‘Tá vendo o que você me fez fazer? Você matou o gato’. Mas quem estava dirigindo era ele. Eu estava dormindo, nem vi. E ele passou a noite inteira me torturando psicologicamente com isso”, conta Sônia, que ainda chegou a assumir a culpa.

Depois disso, vieram as agressões físicas. O parceiro, segundo Sônia, se irritava por qualquer motivo e a atacava. “Ele dormia a tarde inteira e eu tinha que ficar em silêncio total. Um dia, eu estava fazendo o jantar, ele acordou bravo por ser acordado e veio para cima de mim. Me deu um safanão e disse de novo ‘Tá vendo o que você me fez fazer?’”, relembra.

O agressor usava justificativas absurdas para tentar validar a violência e a vítima acabava aceitando as situações, por medo. Mas, ao decidir sair de casa, o autor não aceitou e no dia de retirar a mudança, por medo e para ter provas, gravou a situação.

“Ele não aceitou. Veio para cima de mim com uma faca, dizendo que eu iria apanhar e morrer ali. Tentou me forçar a entrar no carro. Disse que um corpo em decomposição em um canavial na Alvorada do Sul seria só um indigente. E eu não queria ser mais uma”, relata. Foi nesse momento que ela conseguiu fugir: “Empurrei o portão e corri. Não olhei para trás”, revive o momento.

Após escapar do agressor, Sônia procurou ajuda com a coordenadora das políticas públicas para mulheres da cidade. Foi orientada a registrar boletim de ocorrência, mas, segundo ela, o registro inicial foi feito de forma incorreta, apenas como ameaça. Mais tarde, com apoio da delegada da Casa da Mulher Brasileira em Campo Grande, conseguiu registrar o caso corretamente como tentativa de feminicídio.

Hoje, o agressor está sob uso de tornozeleira eletrônica, e Sônia vive com botão do pânico. Mesmo em outra cidade, ela segue sob medidas de proteção.

Apesar do medo constante, Sônia decidiu mostrar o rosto e contar o que viveu com esperança que a justiça sobre o caso seja feita. "Descobri outros históricos de violência contra ex, filha, são tantas coisas, hoje eu espero a justiça, por mim, por elas, e por tantas mulheres que vivem situações similares", diz.