Iva da Silva de Souza está em abrigo da Prefeitura desde a noite de segunda-feira (24). Ela passará por avaliação geral da saúde nesta quarta (26), segundo a Assistência Social.

Mulher de 63 anos resgatada de cárcere privado é mantida em abrigo e passa por exames médicos
Foto de Iva da Silva Souza quando tinha 17 anos, um dos últimos registros que a família possui / Foto: Arquivo Pessoal

A mulher de 63 anos resgatada da residência onde foi vítima de cárcere privado em Vinhedo (SP) vai passar por vários exames médicos nesta quarta-feira (26). O secretário de Assistência Social da cidade, Eduardo Galasso, disse ao G1 que ela não fazia acompanhamento de saúde com médicos enquanto era mantida na condição análoga à escravidão.

Desde o seu pedido de socorro à Polícia Civil, que apurava suspeita de estelionato envolvendo o nome dela, Iva da Silva de Souza foi acolhida no abrigo da Prefeitura. Ela cuidava de outra idosa, de 88 anos, há ao menos 20 anos na condição de restrição de liberdade. A filha da mulher mais velha e o marido estão presos por estelionato, sequestro, tortura e cárcere privado.

Resumo:

Mulher trabalhava na casa, não era remunerada, não saía e não falava com familiares
Família registrou desaparecimento dela na polícia em 1996
Iva surpreendeu policiais com pedido de ajuda
Ela permanece em abrigo de idosos em Vinhedo
Iva saiu de casa para ajudar mãe a sustentar família, diz irmã 

O secretário de Assistência Social informou que o médico vai verificar se Iva será encaminhada para psicólogo ou psiquiatra após os exames, que serão realizados dentro do abrigo. Disse ainda que a idosa chamou atenção pela resiliência e força, apesar do que aconteceu, mas que está confusa.

"Procuramos familiares, estamos entrando em contato. Também estamos conversando com a dona Iva para que ela queira ver os familiares, esse é o nosso trabalho, restabelecer esse vínculo. E a gente vem fazendo um trabalho tanto psicológico, como também médico, de conversa [...] A gente não pode esquecer que existe também um inquérito policial, que está fazendo as averiguações."

A outra mulher, de 88 anos, foi internada na Santa Casa da cidade e teve alta médica nesta quarta. Ela foi para o mesmo abrigo onde Iva está e os assistentes sociais estão buscando outros parentes dela, já que a filha está presa.

Reencontro com familiares
 
Iva trabalhava para a mesma família há décadas e recebia salário, mas a situação mudou com a morte do patriarca e a condição do cárcere privado se instalou, segundo as investigações. Familiares do Paraná chegaram a registrar boletim de ocorrência de desaparecimento em 1996.

A Polícia Civil localizou familiares no Paraná e em Araraquara (SP), onde mora uma das irmãs de Iva. Odete da Silva Souza viajou 200 km para reencontrá-la no abrigo. A imprensa não foi autorizada a acompanhar o encontro, mas Odete contou da emoção de rever a irmã.

"Ela já veio de braços abertos para me abraçar. Eu estava sentada em uma salinha e ela apareceu: 'Odete?' Eu disse: 'Odete'. Agora a gente sabe que ela está bem. Agora eu já posso [dizer]: 'Mãe, a minha irmã está lá'. [...] Minha mãe já não tinha mais esperanças", disse.
 
Na cidade de Jesuítas (PR), a mãe de Iva, Maria da Silva, soube nesta terça-feira que a filha está viva. Iva saiu de casa muito jovem para trabalhar no interior de São Paulo como empregada doméstica.

"Eu estou muito emocionada. Estou feliz só de saber notícias dela", disse a mãe.
 
Ainda esta semana, mais familiares são esperados para visitar a mulher em Vinhedo, informou a Secretaria de Assistência Social.

Investigação
 
Ecio Pilli Junior e Marina Okido, filha da idosa mais velha, foram presos preventivamente suspeitos de passar cheques sem fundo no nome da vítima e de mantê-la em condições análogas à escravidão.

O homem foi encaminhado nesta terça ao Centro de Detenção Provisória (CDP) de Jundiaí (SP), e ela à cadeia de Itupeva (SP).

De acordo com a Polícia Civil, além de manter Iva há pelo menos 20 anos reclusa, cuidando de outra idosa, o casal usava uma conta aberta no nome dela para aplicar golpes em comércios no bairro Vila João XXIII, em Vinhedo.

O casal e as idosas viviam em casas separadas, mas os suspeitos iam até a residência das mulheres todos os dias. Mariana tinha passagem por agressão na década de 1970 e o Ecio não tinha antecedentes criminais.