Fila se formou porque hospital de Bauru que fazia as operações restringiu novos atendimentos a pacientes do estado de São Paulo.

MS tem pelo menos 60 bebês em fila de espera para cirurgia de fissura lábio palatina
Em 2016, hospital São Julião, em Campo Grande fez duas cirurgias para reparação da má-formação; entidades querem habilitação da instituição para ser referência no estado. / Foto: Edemir Rodrigues/Subsecom

Mato Grosso do Sul tem pelo menos 60 bebês, em uma faixa etária de cinco meses a um ano e meio de idade, em uma fila de espera, aguardando para a realização da primeira cirurgia para a correção da fissura lábio palatina, uma má-formação também conhecida como lábio leporino ou fenda palatina.

Os dados são da Fundação para o Estudo e Tratamento das Deformidades Crânio-Faciais (Funcraf), entidade referência no tratamento ambulatorial da fissura lábio palatina no país. Por meio de uma equipe multidisciplinar formada por profissionais como: pediatras, enfermeiras, otorrinoralingologistas, fonoaudiólogos e odontologistas, entre outros, a instituição atende pacientes antes e após as cirurgias de correção.

Segundo a coordenadora da unidade de Campo Grande da Funcraf, Carla Pacheco Normando, essa demanda reprimida ocorre porque o Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais da Universidade de São Paulo (USP), em Bauru, conhecido por “Centrinho”, que normalmente faria essas operações, restringiu há cerca de dois meses os atendimentos.

“Os pacientes antigos, ainda estão sendo atendidos. Mas os novos, as crianças que nasceram com a má-formação após o início da restrição não. Isso ocorre porque o Centrinho está regionalizando seu trabalho e vai atender pacientes somente do estado de São Paulo. Como a cirurgia para iniciar o processo de correção tem de ser feita o mais breve possível após o nascimento da criança, por conta do crescimento do osso e da pele, tínhamos, quando foi anunciada a restrição, já 60 crianças que precisavam fazer a operação. Hoje o número deve ser ainda maior”, explica.
A alternativa para atender essa demanda e solucionar o problema, conforme a coordenadora, é habilitar um hospital do estado, o São Julião, em Campo Grande, para realizar as cirurgias. Ela lembra que em 2016, o hospital chegou a promover duas cirurgias corretivas, uma inclusive de enxerto ósseo, conseguindo excelentes resultados.
 
“Como a instituição [São Julião] tem interesse nessa habilitação e temos a demanda, encaminhamos a secretaria municipal de Saúde [Sesau] o pedido para a habilitação do hospital”, explica. O pedido foi então remetido pela Sesau a Comissão Intergestores Bipartite (CIB).
A CIB é o colegiado de articulação, negociação e pactuação entre os gestores estaduais e municipais para a operacionalização das políticas públicas, de interesse do Sistema Único de Saúde (SUS).

O pedido foi aprovado na reunião da CIB no início de julho e segundo a secretaria estadual de Saúde (SES) será encaminhado para o Ministério da Saúde, que é o órgão responsável pela habilitação do hospital para fazer as cirurgias de reparação dessa má-formação. A expectativa, conforme a SES, é que esse processo não demore.

A coordenadora da Funcraf aponta que a direção do hospital São Julião já informou que com a estrutura disponível na instituição poderá atender, após a habilitação, toda essa demanda reprimida em prazo de aproximadamente dois meses e meio.

O G1 tentou entrar em contato com a direção do Hospital São Julião, mas até a publicação da matéria não obteve retorno.