João Alfredo afirmou ser contrário ao que chamou de “invasão de terra”, a descriminalização do aborto e das drogas.

Militância do PSOL denuncia João Alfredo ao conselho de ética e pede retratação pública

O candidato do PSOL ao Governo de Mato Grosso do Sul, João Alfredo Danieze, está no centro de um impasse envolvendo parte da militância do próprio partido. O núcleo ‘anticapitalista’ do partido no Estado vai apresentar denúncia formal contra o advogado ao Conselho de Ética Nacional por declarações polêmicas e contrárias a algumas pautas primárias do partido.

João Alfredo afirmou ser contrário ao que chamou de “invasão de terra”, a descriminalização do aborto e das drogas, pautas-base do partido, e também se diz parte da “esquerda sensata e racional” no país. A declaração causou revolta em um dos núcleos do partido, que repudiou a fala e aguarda uma retratação pública do advogado.

“A luta por ocupação de território é um dos pilares do nosso partido. O que ele expressou sobre ‘invasão de terra’ já denuncia que ele não entende nada sobre o que é ser de esquerda. Na esquerda não se fala de ‘invasão’, a gente fala de ocupação de determinados territórios com objetivo de luta”, criticou o professor Henrique Nascimento, militante da sigla, citando que a chapa do partido à presidência é composta pelo líder do movimento dos trabalhadores sem terra, Guilherme Boulos, e pela indígena Sônia Guajajara.

Outro ponto recebido com espanto pela militância socialista é o posicionamento contrário a descriminalização do aborto e das drogas, declarado pelo candidato. “Esse é um debate muito claro no partido. Ele [João Alfredo] não consultou nem a base nem a direção estadual do partido, tirou da cabeça dele”.

Henrique também aponta que João Alfredo ‘titubeou’ ao comentar o projeto escola sem partido, outra pauta repudiada na sigla. “É bom demonstrar que nacionalmente o PSOL é contra o escola sem partido. Nossos deputados lutam por isso e o nosso partido é o que mais encampa isso”, lembrou.

A própria escolha de João Alfredo ao Governo, segundo o militante, já havia gerado insegurança e resistência de parte dos filiados. “Houve resistência desde o primeiro momento, mas o que achávamos é que o candidato tivesse uma noção do que é o PSOL, ele não entende o que é o PSOL, nem nacionalmente, nem estadualmente”, lembra.

Procurado pela reportagem, João Alfredo afirmou que as críticas partiram de uma corrente ‘Xiita’ do PSOL que tem pouca representação no estado e negou um racha no partido. “Fiz um juramento como advogado de cumprir as leis do país. Se o direito à propriedade é uma garantia constitucional, eu jurei profissionalmente cumprir”.

“Essa é uma ala ‘xiita’ de extrema esquerda cujas pautas programáticas, nós não comungamos. Sempre fui transparente em dizer meus pontos de vista. Desde o congresso que me indicou em novembro do ano passado, eles já sabiam do meu posicionamento, tanto que foram perdedores já no congresso. Isso é um pretexto com propósito de abalar nossa candidatura”, rebateu.