O vazamento dos pedidos de prisão de integrantes da cúpula do PMDB na manhã desta terça-feira (7) irritou o ministro do STF, Gilmar Mendes. De acordo com o jornal Folha de S. Paulo, Mendes disse que o vazamento era uma "brincadeira" com o tribunal, que a prática é grave e que responsáveis precisam ser interrogados.

A declaração foi feita enquanto Gilmar se reuniu com os colegas do Supremo, sendo possível ouvir a reclamação do ministro sobre vazamento do lado de fora da sala, onde jornalistas estavam. Estavam presentes os ministros Teori Zavascki, Dias Toffoli e Cármen Lúcia.

O pedido de prisão foi pedido pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e atinge o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o senador Romero Jucá (PMDB-RR), o ex-presidente da República José Sarney (PMDB-AP) e o deputado afastado da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Os processos tramitam em sigilo e aguardam decisão do ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato.

"Na verdade, tem ocorrido, vamos dizer claramente, e aconteceu inclusive em processo de minha relatoria. Processos ocultos, que vêm como ocultos, e que vocês já sabem, divulgam no jornal antes de chegar ao meu gabinete. Isso tem ocorrido e precisa ter cuidado, porque isso é abuso de autoridade", afirmou Mendes à Folha de S. Paulo.

"É preciso ter muito cuidado com isso, e os responsáveis tem que ser chamados às falas. Não se pode brincar com esse tipo de coisa. 'Ah, é processo oculto, pede-se sigilo', mas divulga-se para a imprensa que tem o processo aqui ou o inquérito. Isso é algo grave, não se pode cometer esse tipo de... Isso é uma brincadeira com o Supremo. É preciso repudiar isso de maneira muito clara", completou.

O jornal também questionou se as críticas referiam-se à Procuradoria-Geral da República. Em resposta, Mendes declarou que a afirmativa é direcionada a qualquer pessoa que tenha favorecido o vazamento. "Quem estiver fazendo isto está cometendo crime", disse.

Ainda de acordo com a Folha, outro ministro, ouvido sob a condição de anonimato, disse que o vazamento tem um fator de pressão sobre o STF, uma vez que os pedidos de prisão já estão no tribunal há algumas semanas.
Escutas e pedidos de prisão

A base para os pedidos de prisão tem relação com as gravações feitas pelo ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, envolvendo os peemedebistas. As conversas sugerem uma trama para atrapalhar as investigações do esquema de corrupção da Lava Jato.

No diálogo gravado por Machado, Jucá chegou a falar em um pacto que seria para barrar a Lava Jato. Doze dias após a posse dele no Ministério do Planejamento, a Folha revelou a gravação, e Jucá deixou o cargo voltando ao Senado.

Outro diálogo revelou que Renan chamou o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, de mau caráter e disse que trabalhou para evitar a recondução dele para o comando do Ministério Público, mas ficou isolado.

Em sua delação premiada, o ex-presidente da Transpetro afirmou que pagou ao menos R$ 70 milhões desviados de contratos da subsidiária da Petrobras para líderes do PMDB no Senado.

A maior parte da propina teria sido entregue para o presidente do Senado, sendo R$ 30 milhões. Renan é considerado o padrinho político de Machado e principal responsável por dar sustentação a ele no cargo, que ocupou por mais de dez anos.

O ex-presidente apontou ainda aos investigadores que Jucá e Sarney levaram do esquema R$ 20 milhões cada um. Não há detalhes sobre como Machado teria feito esses repasses, que foram desviados da empresa que é responsável pelo transporte de combustível no país. A colaboração traria ainda indicações de recursos para os senadores Edison Lobão (PMDB-MA) e Jader Barbalho (PMDB-PA).