Pacientes que buscarem por consulta serão dispensados durante os próximos 30 dias.

Médico sai de férias e população fica 1 mês sem consulta em posto
Aviso colado em mural alerta os moradores sobre a falta de médico. / Foto: Vinicios Araújo

Conseguir uma consulta médica para os moradores da região do bairro Jockey Clube em Dourados não é tarefa fácil. A afirmação foi repassada ao Dourados News pelos próprios populares durante visita ao bairro na manhã desta terça-feira (17). O fato é que agora a situação ficou ainda pior com o clínico-geral em período de férias.

Pacientes que buscarem por consulta serão dispensados durante os próximos 30 dias.

A equipe de reportagem conversou com moradores dos bairros Parque das Nações II, Vila São Braz e Jockey Clube para conhecer as principais necessidades dessa região, e as reclamações foram quase que unânimes: falta assistência na saúde. 

Segundo um morador na Vila São Braz, de 59 anos, que optou por não se identificar, “depender do atendimento no posto de saúde não dá”. Ele, que está afastado por uma enfermidade no pé esquerdo, disse ter investido R$ 2.800 para consultas e exames na rede particular, sem contar os medicamentos. 

“Se for depender de posto a gente morre”, disse a esposa do douradense enquanto varria o quintal da casa.
A vizinha do casal, que é gestante e trabalha em um frigorífico de frango na cidade, disse que utiliza o convênio da empresa para garantir assistência médica de qualidade para ela e para a família. 

“Tem seis anos que utilizo o convênio. Quando a minha menina de seis anos fica atacada da bronquite por causa dessa poeira eu já levo direto para a UPA [Unidade de Pronto Atendimento]”, relatou a moradora. 

Para Ana Alves, de 62 anos, moradora no Jockey Clube, o desafio é conseguir exames na unidade de saúde do bairro. Segundo ela, raramente é possível conseguir até mesmo análises simples como em amostras de urina, por exemplo.  

“O mais difícil é conseguir fazer um exame. O médico passa exame de sangue, de urina, esses de rotina, a gente não consegue fazer aqui. Isso porque diz que não está marcando ou ambulatório não está fazendo”, disse a moradora. 

Residente há 30 anos na região, outro que também confirma a dificuldade de assistência na área da saúde é o comerciante Pedro de Souza, de 61 anos. Ele, que tem um comércio de bebidas, contou à equipe de reportagem que conseguir atendimento no posto de saúde é um desafio. 

“Nossa saúde está uma vergonha. A gente vai fazer um exame tem que pegar três, quatro meses depois. Nem médico tem nesse posto”, reclamou Pedro. 

Ele contou que recentemente a esposa precisou custear, mesmo sem condições, consultas para problemas na coluna. “A gente teve que pagar porque nesse posto não consegue ‘nem com a pega’. E o pior que nessas horas os políticos que ficavam andando aqui em época de eleição somem”, afirmou.

NO POSTO

Para confirmar as denúncias dos moradores, a equipe de reportagem se deslocou até a unidade de saúde e no momento em que chegou ao local flagrou uma mãe acompanha das duas filhas pequenas sendo dispensada por falta de médico. 

Daniele Rosa de Souza, de 23 anos, moradora há dois anos no bairro, foi buscar atendimento para ela e para filha de cinco anos que está com suspeita de hérnia no umbigo. 

“Faz tempo que eu não vinha aqui no posto, aí hoje decidi vir. Para eu fazer exames eu tenho que pagar, consultas também. Aí hoje que vim procurar está sem médico”, lamentou a mãe. 

Ela foi direcionada a ir buscar atendimento na UPA, quase 10 quilômetros distante do bairro. 

No mural da unidade a mensagem alerta: “não haverá agendamento de consultas médicas da equipe 27 nos próximos 30 dias. Motivo: férias do médico”. 

De acordo com informações apuradas no local, não é costume da administração municipal substituir servidores que entram em período de férias. 

No lado de fora do posto, uma placa enorme especifica as vantagens da unidade:

• Saúde mais perto de você

• Saúde toda hora

• Saúde da mulher

• Saúde conte com a gente

• Saúde não tem preço

• Saúde Sistema E-sus

OUTRO LADO

O Dourados News foi saber com a secretaria municipal de saúde como ficará a situação dos moradores daquela região. De acordo com o secretário Renato Vidigal, o município sofre com um déficit de 10 médicos nos postos. 

A justificativa é a falta de servidores e o recesso aos profissionais do programa Mais Médicos. 

“Vai haver sim a substituição, é difícil médico, inclusive nós estamos contratando. Se houver clínicos gerais no município a disposição pode nos procurar. Mas para essa situação do Jockey Clube nós vamos mandar um médico sim”, afirmou Vidigal. 

Segundo a equipe da secretaria, lá atuam dois profissionais, um deles do programa federal Mais Médicos. Os dois estão em período de férias, e de acordo com a administração, no caso do médico cubano, a escala de recesso é feita pela UPA e não pela secretaria de saúde. 

Para Vidigal, dois fatores prejudicam novas contratações: a falta de clínicos gerais no mercado da região e também o salário oferecido pela gestão em Dourados. Segundo o secretário, muitos médicos preferem atuar em cidades vizinhas onde o rendimento financeiro é melhor. 

Dourados paga em torno de R$11 mil para os clínicos-gerais que atuam nos postos de saúde. 

Em relação à dificuldade de realização de exames na unidade do bairro Jockey Clube, Vidigal garantiu que em 30 dias um serviço de realização de exames vai atender toda população douradense por meio de empresa contratada para análise de amostras. 

“Esse serviço deve aumentar mais de 100% a oferta de exames no município. A partir de agora haverá um prestador único e estamos já em fase de assinatura de contrato”, afirmou.