Faz parte desse contexto o Programa Nuclear da Marinha (PNM) e o submarino nuclear Álvaro Alberto.

 Marinha critica governo por indiferença a projetos estratégicos
Faz parte desse contexto o Programa Nuclear da Marinha (PNM) e o submarino nuclear Álvaro Alberto. / Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

A Marinha do Brasil voltou a expor, ainda que de forma indireta, seu descontentamento com a instabilidade política que ameaça projetos estratégicos de soberania. 

Em artigo publicado na Agência Marinha de Notícias, na última terça-feira, 14, o capitão de Mar e Guerra da reserva Leonam dos Santos Guimarães criticou a “estagnação pela ausência de compromisso do Estado”. Segundo ele, há uma distância crescente entre o discurso oficial e a realidade orçamentária.

Marinha: lentidão nos avanços
 
Guimarães sustentou que o Brasil vive um ciclo de promessas não cumpridas. Enquanto autoridades exaltam programas para a Amazônia e a necessidade de proteção marítima, faltam recursos para garantir a continuidade dos programas. “Projetos de Estado não podem depender da vontade do governo de ocasião”.

O autor lembrou que, nos anos 1980, o PNM recebeu apoio institucional e alcançou marcos relevantes, como o domínio do ciclo do combustível nuclear. Porém, nas décadas seguintes, a mudança de prioridades nacionais então centradas em pautas sociais levou o programa a uma “sobrevivência vegetativa”. A adesão do Brasil ao Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), em 1998, intensificou a cautela e reduziu drasticamente os investimentos.

Uma retomada parcial ocorreu em 2008, com a adoção de um programa de defesa nacional. Ainda assim, diz o artigo, entre 2015 e 2025, crises econômicas e disputas políticas interromperam o avanço, revelando a vulnerabilidade de projetos que dependem do ciclo político.

Guimarães aponta outro obstáculo: a falta de cultura de defesa. Para grande parte da sociedade, afirma o militar, soberania e segurança internacional são temas distantes, frequentemente confundidos com segurança pública. Esse distanciamento facilita campanhas de desinformação que associam, de forma equivocada, o programa nuclear a fins bélicos.

Sem apoio social e respaldo político estável, o país corre o risco de perder capital humano e tecnológico acumulado em décadas. Para o oficial, somente uma estratégia nacional de segurança, com orçamento plurianual e proteção legal, poderia garantir a continuidade dos projetos da Marinha. “O submarino nuclear não é apenas um artefato militar, mas um ato de soberania”.