Muito empenho e determinação, demonstrou o Dr. Eduardo Luiz Castrioto de Jesus.

Maracajuense picolezeiro: ‘Quis mostrar que estudar é primordial
Eduardo Luiz Castrioto de Jesus recebeu o diploma na segunda-feira (15).

“Antes as pessoas se aproximavam para comprar um pão integral, um picolé ou um melzinho. Hoje as pessoas se aproximam para pedir conselhos jurídicos, daquele que, antes da UEMS, era vendedor de picolé”, ressaltou Eduardo Luiz Castrioto de Jesus, recém-formado no curso de Direito, pela Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), em Dourados.

Ele é de uma família de classe baixa, com cinco irmãos, do Rio de Janeiro, parou de estudar cedo e rodou o Brasil vendendo coisas para se sustentar. Depois percebeu que era necessário voltar para a escola, retornou para o Rio de Janeiro e fez o Supletivo, mas não chegou a completar o Ensino Médio. Conheceu sua esposa numa viagem e se casou com 27 anos. Foram morar no Rio de Janeiro, mas ela sentia muita saudade de sua terra natal, o Mato Grosso do Sul.

Em MS, moraram em Campo Grande, depois se mudaram para Maracaju, onde permanecem. Lá começou a vender picolé, mel, pão e chá para sustentar a família. Mas foi um trio de “Eduardos” que mudou a sua vida: Eduardo Luiz Filho (21 anos), Eduardo Estevão (19 anos) e Eduardo Henrique (18 anos) – seus filhos!

Eduardo pai sempre dava um jeito de conseguir o provimento para o lar, mas não queria que os filhos pensassem que poderiam fazer o mesmo e menosprezar os estudos. “Poderiam achar que o estudo não era primordial, que o Ensino Superior não seria algo tão necessário. Eu fiquei com medo disso, então isso me motivou a voltar a estudar na parte da manhã em uma escola estadual, depois isso me incentivou a fazer o vestibular da UEMS e entrar na Universidade para mostrar para os meninos que era necessário sim! Independente de formação, é necessário para adquirir conhecimento! ”, enfatizou.

Durante o curso, iniciado em 2011, foram muitas dificuldades, desde sair de casa às 05h50 e voltar às 13h30 (ou a noite, de carona, quando tinha estágio), vender pão na Universidade para ajudar na renda até se superar e aprender informática (pois não tinha nem e-mail quando iniciou o curso). E superação não ficou só aí, ele fez estágios, passou no concurso da Prefeitura de Maracaju e já foi aprovado no Exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).

Entrou pelas cotas e sabe a relevância disso. “As cotas são um instrumento de inclusão social necessário, mas nós queríamos que isso fosse temporário, que a escola pública fosse de qualidade para que o aluno de lá pudesse disputar uma vaga igualmente com um aluno de uma escola particular”, pontuou.

Seu maior sonho é ver os seus “Eduardos” formados, ver a família bem e passar em um concurso de defensor público. Quem sonha ao seu lado, há 20 anos, é a esposa, Lucineide do Nascimento Castrioto, que muitas vezes até assistiu aula para esperar o marido, fez pão na madrugada para ajudar na renda da casa e teve que perder a vergonha de pedir carona para retornar para Maracaju.

“A UEMS para mim representa a casa dos sonhos. No meu primeiro dia de aula eu fiquei maravilhado com a explanação do professor e pensei ‘mesmo que eu não consiga passar em nenhuma matéria eu volto aqui para assistir tudo de novo do que estes professores estão falando’, porque a minha preocupação não era mais passar, mas sim absorver conhecimento. A UEMS, os professores da UEMS, o pessoal da limpeza da UEMS e o pessoal do apoio da UEMS são uma família para mim, que trazem muito conhecimento e disseminam este conhecimento, fazem o conhecimento ser coisa fácil”, finalizou o advogado, de 48 anos, que trabalhou como picolezeiro até 2015 para sustentar a família.

Maracajuense picolezeiro: ‘Quis mostrar que estudar é primordial