O desafio de trazer uma pessoa ao mundo é por si só uma grande missão. E quando isso acontece em meio a uma inesperada e dolorosa pandemia, a força para lidar com as emoções conflitantes tem de ser maior ainda.
Gerar uma vida é o momento da realização de um sonho muito esperado para várias mulheres. O desafio de trazer uma pessoa ao mundo é por si só uma grande missão. E quando isso acontece em meio a uma inesperada e dolorosa pandemia, a força para lidar com as emoções conflitantes tem de ser maior ainda.
A reportagem do Dourados News, que acompanha diariamente os desdobramentos da vacinação contra a Covid-19 no municípioi desde o começo, ouviu os relatos de três personagens. Totalmente diferentes entre si e em suas jornadas da maternidade, essas mulheres contaram os momentos de tensão e da esperança em dias melhores.
“Eu me sinto uma sobrevivente”
Mariana Francisca da Silva Stein, de 23 anos, chegou a Central de Vacinação do Espaço Dom Teodardo Leitz para tomar a segunda dose, com a filha Maria Luiza nos braços. A pequena, que fará três meses de idade amanhã, é a primeira filha dela e do esposo. Uma criança muito desejada que veio realizar o sonho da mãe em meio a pandemia.
“Apesar de tudo, jamais deixou de ser um momento especial na minha vida. Graças a Deus ela veio com saúde, mesmo nesse momento tão difícil e de tantas mortes. Poder trazer uma vida ao mundo é algo de esperança. Fiquei com muito medo quando descobri que estava grávida e veio essa doença, foi bem difícil, um desafio além do que já é ser mãe”.
Moradora do bairro Dioclécio Artuzi, Mariana trabalhava em consultório odontológico e foi afastada justamente por estar gestante, como forma de prevenção. Ela disse que inclusive a ‘onda’ de desinformação sobre a vacina acabou adiando a ida para receber a primeira dose.
“Até então estava com medo. Somente tomei depois de um mês que ela nasceu. Confesso que tive uma desinformação com relação a vacina, depois fiquei sabendo que gerava anticorpos no bebê e tive mais vontade ainda de tomar para me proteger e também proteger ela”.
Na família, em meio aos meses da gravidez, não houve perdas, mas a convivência com o medo que o vírus trazia para o dia a dia.
“Graças a Deus não perdemos ninguém. Apesar disso, meu tio ficou intubado, na UTI [Unidade de Terapia Intensiva], por 14 dias. Foram dias de luta para toda a família. Me deu bastante medo ver uma pessoa tão próxima passando por isso”.
Hoje, com a filha sorridente em seus braços, Mariana conta que apesar do cenário mais tranquilo, a rotina de cuidados continua e que se considera uma sobrevivente.
“Ainda tenho medo de sair em locais públicos, a gente tem cuidados, quem vai pegar nela passa sempre um álcool. Essa doença veio para acabar com muitas famílias, então peço a Deus pela vida da minha filha e da minha família toda. Fico emocionada porque estamos todos aqui, sobreviventes. Eu me sinto uma sobrevivente. É uma batalha que trouxe um aprendizado. Penso que a gente tem que viver cada momento, pois nunca sabemos o dia de amanhã”.
Medo de agulha, mas alegria por ter a chance de se proteger
Ainda gestante, a uruguaia Monica Navarro, de 23 anos, está há sete meses em Dourados. Aos quase nove meses da primeira gravidez, ela aguardava na fila para tomar a primeira dose, depois de muitos percalços.
O primeiro foi a barreira da documentação necessária, já que os dados de vacinação são atrelados a um número de CPF (Cadastro de Pessoa Física) que ela não tinha.
“Esperei muito por esse momento e ainda bem que chegou. Tenho medo de agulha, estou tremendo, mas esse medo não é maior que o da doença. É importante tomar a vacina e só vamos sair dessa situação desse jeito. Se cuidar é importante”.
Por conta de um amor douradense, ela agora é moradora do bairro Parque Nova Dourados e terá uma filha douradense, que se chamará Cassimira. Monica começou a viver a pandemia ainda no Uruguai.
“Lidar com a gravidez no meio desse caos foi complicado, tive muito medo, principalmente por ser minha primeira vez. É tudo muito novo para mim. Estamos agora numa situação muito melhor da Covid o que dá mais segurança para receber minha filha”.
“Peguei Covid durante uma gestação de risco, foi terrível”
Ainda a mãe mais ‘experiente’ teve um novo desafio com a questão Covid. Moradora do Residencial Guassu, a dona de casa Janaina Luna Figueiredo, de 32 anos, esperou pelo quinto filho, o pequeno Bernardo, em meio a uma gestação de risco onde ainda acabou infectada.
“Não consegui tomar a primeira dose justamente pela condição de alto risco. Pegar Covid durante a gravidez que já era de risco foi um tempo muito ruim pra mim, um mês terrível. Mas, graças a Deus fiquei em casa, tive sintomas leves, mas foi tenso”.
Bernardo nasceu saudável, mas bem pequeno. A questão do desenvolvimento dele e a possível influência da Covid-19 na formação do bebê foi um dos momentos de maior tensão para Janaina.
“Quando tive Covid foi pedido ultrassom, para ver como estava o desenvolvimento e ele estava muito pequenininho. Quando chegou o momento do parto deu muito medo. Tive medo de contrair novamente o vírus, tive medo dele ter alguma sequela, até porque o médico falou que ele era muito pequenininho mesmo. Mas, graças a Deus, nasceu saudável”.
Enquanto aguardava para receber a primeira dose da vacina, Janaina contou que para o futuro, espera que os filhos não tenham que enfrentar uma nova pandemia.
“Foi um momento muito esperado e agora vir tomar a vacina com meu filho nos braços é um sentimento de vitória. Mesmo assim ainda sinto um pouco de medo. Espero que para o futuro dos meus filhos a gente não tenha nenhuma pandemia. Que volte tudo ao normal e que seja tranquilo. Já tiramos um aprendizado de tudo isso, pois muitas pessoas se foram. Graças a Deus na minha família não foi ninguém, mas tive muitos amigos que se foram. Esperamos dias melhores”, concluiu.











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