Rastros fossilizados dos gigantescos animais extintos há 65 milhões de anos estão em uma propriedade particular e a prefeitura alega que o proprietário não tem interesse em transformar a área em roteiro turístico

Lançado em 2015, Nioaque tem Vale dos Dinossauros ainda quase intocável
No canteiro do trevo, logo na entrada da cidade, quem dá as boas vindas é uma imensa escultura de um Abelissauro / Foto: Elizete Maidana/Nioaque Online

Nioaque, município de 14 mil habitantes, localizado a 184 km de Campo Grande pela rodovia BR-060, não é só o berço da Retirada da Laguna, a histórica batalha da Guerra do Paraguai (1864-1870) que terminou com a expulsão dos soldados paraguaios de terras brasileiras. É também o Vale dos Dinossauros.

Já no trevo da entrada da cidade você tem a sensação de chegar a um zoológico jurássico. Quem dá as boas vindas é uma imensa escultura de um Abelissauro, uma espécie de dinossauro carnívoro e bípede que viveu durante o período cretáceo, há cerca de 145 e 65 milhões de anos, pousado sobre as letras “o” e “q” da palavra Nioaque em formato de ovo com filhotes do réptil pré-histórico.

O município de 170 anos de fundação flerta com o período jurássico desde 2015, após uma equipe de paleontólogos da Universidade Federal do Rio de Janeiro anunciar a comprovação científica de pegadas de dinossauros na região, uma descoberta que teve os primeiros registros na década de 1980. O tema seguramente está entre os que mais fascinam crianças e adultos, mas o achado de mais de 30 anos segue ainda quase intocável.
 
Rastros fossilizados dos gigantescos animais extintos há 65 milhões de anos, em uma laje rochosa no leito do rio Nioaque (Foto: Jorge Luís Cardoso/Secretário de Turismo)
Visitar o local dos rastros fossilizados dos gigantescos animais extintos há 65 milhões de anos, em uma laje rochosa no leito do rio Nioaque, não é uma tarefa fácil, mesmo depois de a prefeitura inaugurar o monumento aos dinossauros, em abril de 2015, e lançar um plano de marketing denominando a cidade como Vale dos Dinossauros.

“O sítio paleontológico fica em uma propriedade particular, a Fazenda Mimoso, distante pouco mais de 3 km do centro de Nioaque, e infelizmente o proprietário não tem interesse em transformar a área em roteiro turístico”, explicou o secretário municipal de Turismo, Jorge Luís Cardoso.

Assim, como ainda não é um destino turístico estruturado com este objetivo, apesar da proximidade em relação ao centro da cidade, conhecer de perto a descoberta pré-histórica de Nioaque exige espírito aventureiro de quem se dispõe a ir até lá.

O ACESSO - Se você preferir entrar legalmente na fazenda para chegar até o achado jurássico, só com autorização do proprietário que nem mora em Nioaque, mas em Dourados, distante cerca de 200 km. Há quem prefere ir de barco, considerando que esse passeio não precisa de permissão, mas mesmo assim não é tão simples. Em período chuvoso as pegadas são encobertas pela alta do nível do rio e na baixa o rio não dá condição de navegação.

Também há quem prefere cortar caminho por uma trilha clandestina de 1,2 km passando pela cerca de arame da propriedade na altura do Auto Posto Ypê na Rodovia BR-419. A distância entre o centro da cidade até o ponto de partida dessa trilha é de 1,5 km.

“Muita gente vai a pé”, afirmou o secretário municipal de Turismo. “Estamos em conversas com o proprietário da fazenda para tentar viabilizar a demarcação de uma trilha de acesso nas condições necessários para a visitação, como monitoramento e guias, mas essa decisão depende também de autorização governamental porque implica em impacto ambiental”, ressaltou Jorge Luís Cardoso.