Ana Paula Dolzan havia solicitado substituição da pena por outras medidas restritivas; parecer contrário do MPF foi seguido por juiz.

Justiça federal nega revogar prisão domiciliar de suspeita na Lama Asfáltica
Viatura da PF durante cumprimento de ação na quarta fase da Lama Asfáltica; investigação apura desvios na gestão estadual anterior. / Foto: Arquivo

O juiz Bruno Teixeira, da 3ª Vara Federal de Campo Grande, negou a concessão de liberdade a Ana Paula Amorim Dolzan, que foi um dos alvos da segunda fase da Operação Lama Asfáltica –a Fazendas de Lama. Ela havia pleiteado a substituição da penalidade, que chegou a ser suspensa e restituída pelo STF (Supremo Tribunal Federal) em maio deste ano, por outras penas restritivas que lhe permitissem deixar a casa.

O pedido de Ana Paula foi embasado por fatores como ser réu primária e ter bons antecedentes, residência fixa e filhos pequenos, bem como o fato do crime a ela atribuído não ter sido cometido com violência ou ameaça e, ainda, que o STF não analisou individualmente sua situação quando decidiu por mandar novamente à prisão os investigados na Fazendas de Lama –incluindo o ex-secretário de Obras do Estado, Edson Giroto, e o empresário João Amorim.

O MPF (Ministério Público Federal), porém, manifestou-se contra o pedido por apontar que a participação da investigada nos fatos estar “devidamente delineada” nos autos da Lama Asfáltica, não havendo alterações nos requisitos que resultaram na prisão domiciliar.

Ao analisar o caso, o juiz federal apontou que Ana Paula é suspeita de atuar “por meio de mútuos fictícios e transações financeiras e imobiliárias fraudulentas”, da lavagem de ativos do pai, João Amorim, e da ASE Participações e Investimentos, investigada no caso. Os valores em questão seriam oriundos de desvios de recursos e de pagamentos de propinas, destaca a decisão –que ainda frisa ser Amorim o suposto coordenador dos atos, Ana Paula e Elza Cristina dos Santos atuando na dissimulação dos valores “sempre de forma livre e consciente”.

A decisão ainda cita manifestações em Cortes superiores sobre o episódio e operações “de grande monta” realizadas em 2015, incluindo empréstimos milionários, para apontar que houve reiteração delitiva. O MPF apontou que as punições impostas até aqui eram necessárias para a garantia de ordem pública, econômica e aplicação da lei penal, o que, para Teixeira, sustenta a manutenção das prisões.

Voto – Na mesma decisão, o juiz Bruno Teixeira acatou pedidos de Ana Paula e outras suspeitas de participação no caso para votarem no segundo turno das eleições, neste fim de semana –como Raquel Giroto e Elza Cristina. Dentre os investigados na Lama Asfáltica que se encontram presos no Centro de Triagem, não houve solicitação de direito a voto na eleição deste ano. A Justiça Eleitoral informou que não instalaria seções eleitorais provisórias em estabelecimentos penais neste ano por conta da baixa procura.

A Lama Asfáltica apura um esquema de desvios de recursos públicos instituído a partir de órgãos da administração estadual anterior, como a antiga Secretaria de Estado de Obras Públicas e Transportes (comandada por Giroto), visando a práticas como direcionamento de licitações, fraudes em medições e superfaturamento de obras e serviços. O ex-governador André Puccinelli (MDB) foi preso na quinta fase da ação (a Papiros de Lama) em 20 de julho. Ele está na cela 17 do Centro de Triagem, onde Giroto e Amorim se encontram recolhidos.