Érico Carvalho tem 20 anos e anda de ônibus desde os três; segundo especialista, passeio gera benefícios e independência para pessoas com a síndrome.

Jovem autista apaixonado por ônibus anda 5 horas por dia no transporte coletivo
Jovem autista apaixonado por transporte coletivo anda cerca de 5 horas por dia em ônibus; ao lado a mãe dele / Foto: Arquivo pessoal/Pilar Carvalho

O jovem autista Érico Carvalho é apaixonado por ônibus, e anda cerca de cinco horas todos os dias em no transporte coletivo de Curitiba e Região Metropolitana.
Ele está com 20 anos e a paixão começou quando ele tinha apenas três. Segundo Érico, antes o passeio era sempre com a babá Élza Cavali.

"Nós passeávamos para muitos lugares, agora é ele que me ensina", contou a ex-babá.
Érico diz que as linhas que ele mais gosta são: Capão Raso, Caiuá, CIC, Cabral, Barreirinha, Fazendinha, Portão e Pinheirinho.

"Eu desço de um ônibus e pego outro, é sempre assim. Gasto quatro passagens por dia no mínimo, e nos finais de semanas umas duas", contou.
 
Segundo ele, foi a partir dos 14 anos que começou a circular sozinho pela cidade.

A mãe Pilar Carvalho conta que uma das dificuldades que ele tem, enquanto autista, é de lidar com o mundo externo, com a sociedade de forma em geral. Porém, com esses passeios, ele conseguiu criar independência.

"Na adolescência veio a demanda por parte dele da independência, de se virar sozinho. Hoje ele sai, e não se limita só aos ônibus de Curitiba, ele também viaja pela região metropolitana", disse a mãe.

Érico é tão apaixonado pelo transporte coletivo que possui até maquetes de ônibus em sua casa, iguais aos que circulam na cidade.

Caminho de amizades
 
Durante os passeios, o estudante de Matemática segue fazendo amizades com os funcionários e também com os passageiros.

"Conheço sim, é o Érico! Ele pega ônibus aqui quase todos os dias", contou a cobradora Brasília Lima Torres.

Quem também conhece o jovem de outros passeios, é a passageira Fátima Pereira da Silva.

"Uma vez ele ofereceu o lugar para mim, muito gentil", disse ela.
 
O principal ônibus que o Érico pega é a Linha Centenário-Campo Comprido, que segundo a Urbanização de Curitiba, faz cerca de 36 quilômetros de ida e volta. Além disso, transporta aproximadamente 50 mil passageiros diariamente.

A independência
 
O autismo é um transtorno de desenvolvimento que prejudica, algumas vezes, a capacidade de se comunicar e interagir, por isso, a pessoa necessita de cuidados especializados que lhe permitam a desenvolver, ao máximo, suas capacidades físicas e mentais.

De acordo com a terapeuta ocupacional Jamily Hamud, um dos principais objetivos que se tem na intervenção com pacientes autistas é que ele seja o mais independente dentro de suas possibilidades, ou seja, que consiga realizar as atividades diárias sozinho, desde o tomar banho, se vestir e escovar os dentes.

Em alguns casos, essa independência pode ir além, como preparar sua própria refeição, organizar seus materiais necessários para determinada atividade, e até se locomover na comunidade sozinho.

"Focando na atividade de mobilidade, mais especificamente, o uso do transporte público, podemos pensar em diversas questões que isso traria ao indivíduo: sua autonomia de ir e vir, sua socialização ao encontrar outras pessoas no ônibus e pelo caminho e sua independência, o que leva a uma melhor qualidade de vida", explicou.
 
Segundo ela, é importante o conhecimento de tudo o que engloba o uso do transporte público independente.

"É necessário ter noção de segurança, quando pensamos em pegar o ônibus, pensamos também que esta pessoa vai atravessar as ruas, então é necessário que consiga ter atenção e realizar duplas tarefas; noção tempo e espaço; resolução de problemas, caso ocorra algum problema, como por exemplo, se perder; e comunicação para emergências".

Recomendação
 
Conforme a terapeuta, para as famílias que tem uma pessoa com autismo e que pensam na possibilidade de fazer o uso do transporte público sozinho em segurança, é imprescindível que haja um acompanhamento profissional, para que seja realizada uma avaliação de capacidades, caso possível, um treino de mobilidade na comunidade.

"Devemos pensar sempre na segurança em primeiro lugar. Através do trabalho realizado em conjunto entre terapeutas e a família, podemos possibilitar a essa pessoa, uma vida com mais dignidade e independência", concluiu Jamily.