A adoção de crianças com deficiência – uma das grandes barreiras no processo de adotados com essa característica – torna-se mais tranquila e viável quando as famílias podem contar com o apoio de uma instituição que entenda as necessidades da criança e auxilie nas dificuldades de adaptação no novo lar.

Esse trabalho tem sido feito pela Associação Brasileira de Assistência à Pessoa com Deficiência Visual “Laramara”, na cidade de São Paulo, que atende crianças cegas e com baixa visão.

Esse ano, pelo menos três crianças com esse perfil passaram a ser atendidas pela instituição.

Atualmente, de um total de 5.639 crianças inscritas no Cadastro Nacional de Adoção (CNA) da Corregedoria Nacional do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), 1.022 possuem deficiências, sendo que, destas, 439 são portadoras de doenças tratáveis e 583 de doenças não tratáveis, incluindo nesse grupo portadores de HIV e deficiências físicas e mentais.

Dos atuais 33.596 pretendentes à adoção no CNA, apenas 2.617 não fazem nenhuma restrição em relação à criança ser portadora de alguma doença ou deficiência.

A Instituição Laramara foi fundada em 1991 pelo casal Mara e Victor Siaulys, motivada pelos conhecimentos adquiridos na criação da filha caçula do casal, Lara, que ficou cega devido a retinopatia da prematuridade.

Na instituição, as crianças e adolescentes têm acesso a diversos tratamentos de forma gratuita, com profissionais de fisioterapia, terapia ocupacional, fonoaudiologia e estimulação global.

Além disso, é realizado um levantamento socioeconômico da criança para avaliar a situação de vulnerabilidade em que se encontra e oferecer assessoria na defesa e garantia de direitos às famílias.

Desde o início do atendimento, cerca de 10 mil famílias foram recebidas e, atualmente, atende 600 crianças, jovens e adultos integrados em algum tipo de programa ou serviço – dos 295 funcionários em seu quadro, 13 deles têm deficiência visual.

De acordo com Anderson Almeida Batista, assistente social há dezoito anos da Instituição Laramara, no caso de crianças que foram adotadas, a instituição se preocupa com a acolhida dos pais.

“Começamos todo o atendimento da família. Há muita falta de informação e preconceito que os pais enfrentam, pois as pessoas não entendem e perguntam: como você foi adotar uma criança com deficiência? Isso acaba constrangendo as famílias que podem ter seu convívio social afetado”, conta Anderson.

As crianças costumam frequentar o local uma vez por semana, com atividade de estimulação complementar à escola tradicional, como o ensino do braile, escrita para deficientes visuais, e do Soroban, calculadora japonesa desenvolvida para cegos.

De acordo com o assistente social, outra atividade importante oferecida pela instituição é denominada “atividades de vida autônoma e social”, que contempla, por exemplo, orientações para que o deficiente visual consiga escolher suas roupas, sair de casa para atividades cotidianas e o uso da bengala.

Desenvolvimento – Dos três casos recentes de crianças adotivas que chegaram à instituição para atendimento, Anderson conta que as famílias, que inicialmente estavam muito preocupadas com a fragilidade dessas crianças, acabaram se surpreendendo com a capacidade delas e a rápida evolução no tratamento.

“Toda criança precisa de uma família para se desenvolver. Quando são acolhidas, as crianças começam a fazer tudo com mais segurança”, diz.

“Eu vi muitas crianças pequenas recebendo diagnóstico de que não iriam andar, nem falar e, hoje, já cresceram e estão trabalhando normalmente.

Os pais que querem adotar uma criança com deficiência não podem deixar que falas negativas influenciem no processo”, diz.

Outro receio comum das famílias que adotam, de acordo com ele, é que as crianças com deficiência visual sofrerão muito na escola.

“Em 90% dos casos que atendemos isso não acontece. As crianças são bem recebidas e acolhidas pelos colegas”, diz Anderson.