Império encerra crise de audiência que assustou cúpula da Globo

A noite de quinta-feira foi de festa em Curicica, na zona oeste do Rio, onde fica o Projac. Os mais poderosos executivos da Globo receberam o elenco, os autores e diretores de Império para festejar o sucesso da novela, que terá o desfecho exibido esta noite.
O capítulo 203 encerra uma trajetória iniciada em julho, logo após a final da Copa do Mundo. O folhetim estreou sob a ressaca do vexame da Seleção Brasileira. Poucas semanas depois, enfrentou outro solavanco: a propaganda eleitoral obrigatória.
O folhetim escrito por Aguinaldo Silva e uma equipe de oito colaboradores de texto enfrentou ainda o horário eleitoral do segundo turno, o período de festas (Natal e Réveillon) e as férias escolares, quando menos famílias ficam diante da TV.
Império teve em seu caminho vários obstáculos — e todos foram superados. A começar da ‘herança maldita’ transmitida pela trama anterior, Em Família: audiência muito abaixo do habitual para um novelão das 21h da Globo.
A novela de Manoel Carlos teve média geral de 29.8 pontos no Ibope. Um número bastante negativo se comparado ao de sua antecessora, Amor à Vida, que registrou 35.2 pontos. A missão de Império era reconquistar os telespectadores da principal faixa de teledramaturgia da Globo.
A tarefa pode ser considerada um sucesso: a trama terminará com média de 32.6 pontos, 10% acima do registrado por Em Família. Parece pouco, mas esse índice representa 600 mil telespectadores a mais somente na Grande São Paulo.
Um contingente nada desprezível para as marcas que anunciam nos intervalos da novela e pagam até 1,5 milhão de reais para fazer uma única ação de merchandising em alguma cena.
A análise dramatúrgica de Império revela que não houve nenhuma inovação de linguagem. A novela investiu em velhos clichês, como a rivalidade shakespeariana entre pai e filho (Zé Alfredo versus José Pedro). Porém com molho especial: humor, mistério, overdose de passionalidade.
Aguinaldo Silva fez da trajetória do Comendador uma verdadeira saga folhetinesca. Havia muito tempo a Globo não exibia uma novela protagonizada por um personagem masculino tão forte e popular.
O ator Alexandre Nero emprestou muito de seu sarcasmo peculiar ao herói com comportamento de anti-herói. Zé Alfredo se mostrou egocêntrico, infiel, às vezes tirânico, praticante de uma ética torta. Mas o público fez vista grossa para todos os deslizes do imperador dos diamantes.
O crossdresser Xana (Ailton Graça) e a manicure Naná (Viviane Araújo) fizeram mais sucesso do que os casais ‘convencionais’. A boa química entre os atores transformou dois tipos coadjuvantes em destaque da novela.
A decepção foi Cora, vivida por Drica Moraes e Marjorie Estiano. Apresentada como grande vilã nos primeiros capítulos, a personagem perdeu força e saiu de cena bem antes do fim da história.
Império sai vitoriosa pela audiência satisfatória e a repercussão ampla na imprensa e no boca a boca. A crise estabelecida por Em Família foi completamente superada. A cúpula da Globo respira com alívio: após um desvio da rota, a faixa do novelão das 21h voltou aos trilhos.