Idoso que tentava uma vaga em unidade especializada em câncer morre sem conseguir
Otávio Ferreira Filho com as netas. Ele morreu no Hospital estadual Alberto Torres, que não tem ala destinada a tratamento de câncer. / Foto: Foto de família

A vaga num hospital chegou tarde demais. Com câncer na coluna, no fígado e no baço, o jornalista Otávio Ferreira Filho, de 67 anos, morreu na madrugada de segunda-feira. Ele aguardava, desde o dia 2, um leito em unidade especializada em câncer. Desde o dia 4, tinha uma liminar que obrigava o estado e a prefeitura a providenciarem o tratamento adequado, na rede pública ou privada. Ele foi enterrado nesta segunda, no Cemitério Parque da Paz, em São Gonçalo, Região Metropolitana do Rio.

— Nós só recebemos a vaga em unidade especializada no domingo à tarde. Ofereceram o Antonio Pedro ou o Pedro Ernesto, mas ele já não podia ir para lugar algum. Estava entubado e num estado crítico para remoção, então recusamos a vaga — lamentou Sérgio Azevedo, filho de Otávio.

Tudo começou logo depois da virada do ano. O jornalista — que já estava aposentado e atuava como funcionário público na Prefeitura de São Gonçalo, cidade na qual morava — passou a reclamar de dores. Semanas depois, começou a ficar com uma coloração amarela na pele.

— Ele começou a fazer os exames, mas a tomografia, que foi fundamental para o diagnóstico, demorou cerca de dois meses pelo SUS. Outros exames conseguimos fazer na rede privada, para agilizar o processo — relata a filha, Priscila Azevedo, de 39 anos.

O resultado da tomografia saiu somente no dia 2. Ela mostrava lesões de câncer na coluna de Otávio, que ficaram todo esse tempo crescendo. Houve metástase no fígado e no baço. Até então ele não tomava medicamentos específicos para a doença e, neste dia, ficou internado no Pronto Socorro de Alcântara.

Uma nova corrida contra o tempo começou: enquanto ele estava no pronto socorro, a família buscava vaga numa unidade com mais recursos. Com todas as portas fechadas, na noite de quarta-feira passada eles recorreram ao plantão judiciário. Mas a liminar em mãos obrigando o secretário estadual de Saúde, Felipe Peixoto, e a secretária municipal de Saúde em Niterói, Solange Regina, a internarem Otávio numa unidade especializada, não foi plenamente atendida. Ele foi levado, na sexta-feira, para o Hospital estadual Alberto Torres, onde morreu.