Conselho Regional de Medicina deu parecer contrário ao atendimento no local e vítimas de violência estão sendo prejudicadas.

Governo entra na Justiça para retomar atendimento do Imol na Casa da Mulher Brasileira
Conselho Regional de Medicina deu parecer contrário ao atendimento no local e vítimas de violência estão sendo prejudicadas. / Foto: André de Abreu

Após o CRM/MS (Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso do Sul) "fechar" as salas de atendimento do Imol (Instituto de Medicina e Odontologia Legal) na Casa da Mulher Brasileira e no Cepol (Centro Especializado de Polícia Integrada) e prejudicar os atendimentos às mulheres vítimas de violência doméstica, o Governo do Estado recorreu à Justiça.

A problemática teve início depois que o CRM/MS aprovou parecer contrário ao funcionamento das unidades nos locais alegando "infração ética com base na Resolução n. 1635/2002". 

Mesmo com a ideia de ter um amplo centro de atendimento integrado às vítimas em um mesmo local, para não dificultar os exames, o CRM/MS foi contra atuação de médicos legistas nos locais e usou a Resolução para justificar.

Há semanas com os espaços fechados na Casa da Mulher Brasileira e no Cepol, as vítimas estão tendo que se deslocar até o IML da avenida Filinto Muller, ou seja, há ainda mais trabalho em denunciar as agressões e fazer os exames de corpo de delito, pois o prédio é completamente distante das delegacias.

Reunião

Diante do impasse e prejuízo grande às vítimas, houve reunião realizada no TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul), com representantes da corte, da PGE (Procuradoria-Geral do Estado), da Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública) e da CGP (Coordenadoria-Geral de Perícias). Eles decidiram ingressar com uma ação na Justiça Federal para retomar, o mais rápido possível, os atendimentos nos núcleos do Imol.

O núcleo do Imol na Casa da Mulher Brasileira passou a funcionar no dia 31 de março deste ano e o núcleo da DEPCA no Cepol em 3 de maio. O atendimento nos dois lugares foi suspenso no final de maio, após o CRM/MS (Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso do Sul) aprovar parecer contrário ao funcionamento por infração ética com base na Resolução n. 1635/2002.

Para o secretário de Justiça e Segurança Pública, Antonio Carlos Videira, é preciso buscar uma alternativa conjunta, para não prejudicar as vítimas. “Fico preocupado com a integridade física e com as vidas de mulheres, crianças e adolescentes. Precisamos acolher e não nos paralisar frente a decisões ultrapassadas”, colocou Videira.

A coordenadora da Infância e Juventude do TJMS, desembargadora Elizabete Anache, destacou em sua fala durante a reunião que recebeu com tristeza a notícia de que os serviços foram encerrados. “Após tanto tempo de demora para conseguir esse atendimento humanizado, ele foi retirado abruptamente sem nenhuma reflexão acerca das consequências”, disse.

Já a titular da Coordenadoria da Mulher do Tribunal de Justiça, desembargadora Jaceguara Dantas da Silva, afirmou que a ideia da reunião foi provocar os órgãos competentes no sentido de solucionar, de forma mais célere, o problema de fechamento dos núcleos do Imol.

“Apesar do relevante papel das instituições e órgãos, em especial os conselhos de classe, suas disposições não podem sobrepor à Constituição Federal Brasileira, à Lei Maria da Penha e aos tratados internacionais de defesa dos direitos das mulheres, dos quais o Brasil é signatário”, frisou.

Estiveram presentes na reunião no TJMS na tarde de terça-feira (6), a coordenadora da Mulher, desembargadora Jaceguara Dantas da Silva; a coordenadora da Infância e Juventude, desembargadora Elizabete Anache; juíza da 3ª Vara da Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, Liliana de Oliveira Monteiro; secretário de Justiça e Segurança Pública do Estado de Mato Grosso do Sul, Antonio Carlos Videira; procuradora-geral do Estado, Ana Carolina Ali Garcia; procurador do Estado Rafael Antonio Mauá Timóteo (CJUR/Sejusp); procurador-geral adjunto do Estado, Ivanildo Silva da Costa; coordenador-geral de Perícias de Mato Grosso do Sul, José de Anchieta Souza Silva; e o diretor em exercício do Imol, Adalberto Arão Filho.