Por oito meses, o Profissão Repórter acompanhou a história das gêmeas Ysadora e Ysabelle, protagonistas de um dos maiores desafios da medicina brasileira. O programa também mostra outros casos complexos que são atendidos no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto.

Gêmeas siamesas separadas em operação rara comemoram três anos
O repórter Erik Von Poser acompanhou a cirurgia das gêmeas siamesas / Foto: Reprodução: TV Globo

O Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, realiza 1.500 partos por ano e é uma referência nacional para casos de maior complexidade, como o caso de Maria Ysadora e Maria Ysabelle, gêmeas siamesas que nasceram ligadas pela cabeça.

Depois de oito meses da quinta e última cirurgia, que foi a da separação das gêmeas, o repórter Erik Von Poser esteve no Ceará para ver a recuperação das crianças, que recentemente completaram três anos.

Elas fazem acompanhamento em um hospital de Fortaleza, junto do neurocirurgião pediátrico Eduardo Jucá, que foi quem as levou para o Hospital das Clínicas de Ribeirão. Ysadora e Ysabelle já falam "papai", têm sustentação no pescoço e até ficam de pé com ajuda dos pais. Para a mãe, Débora Freitas, o sonho é que daqui uns meses elas comecem a correr.

Preparativos para a cirurgia

Em 2018, a equipe do HC de Ribeirão Preto passou por um dos maiores desafios da medicina brasileira; um caso raríssimo que contou com a ajuda de especialistas dos Estados Unidos. Em uma maratona de 21 horas, neurocirurgiões fizeram com sucesso a cirurgia de separar as gêmeas siamesas unidas pela cabeça.

"A raridade, nós estamos falando aqui de um caso para 2,5 milhões de nascidos vivos. E, ainda assim, sendo tão rara, a cada quatro crianças que têm uma união pela cabeça, só uma tem condição de ir para a cirurgia", afirma o neurocirurgião pediátrico Ricardo Santos de Oliveira.

"O que está sendo feito para esse caso em particular vai beneficiar muitas outras crianças além das gêmeas", conta Jucá.

O americano James Goodrich é neurocirurgião pediátrico e foi pessoalmente acompanhar a cirurgia. Ele explica que até 2004, era muito comum que a mãe tivesse que escolher quais das crianças iria sobreviver. Uma decisão difícil que deixava traumas permanentes na família. Então, ele e um colega desenvolveram uma técnica para executar várias cirurgias preparatórias ao longo de um ano.

Após um mês que elas foram separadas, Ysabele e Ysadora entraram num processo de reabilitação. Os médicos e fisioterapeutas apostaram na capacidade dos cérebros infantis de criarem novas conexões para que as meninas consigam ganhar independência.

"Elas passaram dois anos em uma situação de difícil estimulação. A gente conversa com os pais mostrando que ainda tem um caminho pela frente. A gente precisa que elas sustentem o pescoço, que elas sentem sozinhas para a gente almejar uma marcha", afirma Carla Caldas, neurologista chefe de reabilitação pediátrica.

Do parto prematuro ao tratamento prolongado de crianças

Um dos casos registrados pelo repórter Caco Barcellos foi dos filhos de Regiane Morro. O peso de um bebê saudável costuma ser em torno dos 3 kg; a filha dela nasceu com menos de 500 gramas. Regiane se preparava para ter filhos em um hospital particular, mas teve que mudar os planos.

"Tava correndo tudo bem na gravidez, até que eu descobri que a pressão tava muito alta e me indicaram um médico do HC, porque a única chance deles sobreviverem era aqui, porque ela nasceu muito pequena, do tamanho de um celular. Ela é um milagre pra mim", conta.

O HC também conta com uma Casa de Apoio que abriga pacientes com câncer que vêm de longe, como é o caso da menina Eliza Lohner, de 5 anos.

"Ela começou com uma sinusite muito forte, uma irritação muito forte na garganta. Aí ela foi perdendo a vontade de se movimentar, de respirar, muito cansaço, não conseguia ficar acordada por causa do cansaço. E foi aí que a gente descobriu que o tumor estava crescendo do nariz em direção à garganta", diz Elaine Maria Silva, mãe de Eliza.

Ela e a filha já estão há três meses na Casa e ali fizeram amizade com a família da pequena Débora Camilo.

"As duas têm a mesma forma de tumor. No caso da pequena [Débora] foi mais agressivo", conta Gisele Cristina Camilo, mãe da Débora. "Em poucos dias, no caso da Débora, foi no olho, o tumor dobra de tamanho. Por isso que o tratamento precisa ser muito rápido. Não dá pra perder tempo."

Débora e Eliza estão no meio de um tratamento que dura cerca de um ano. Já fizeram radioterapia e agora recebem quimioterapia toda semana.