Graças às vacinas, avanços tecnológicos e melhores serviços veterinários, 11 dos 12 países sul-americanos exportam carne.

Febre Aftosa: vacina não deve servir como barreira comercial
Graças às vacinas, avanços tecnológicos e melhores serviços veterinários, 11 dos 12 países sul-americanos exportam carne. / Foto: Canal Rural/Reprodução

Com base em evidências científicas, especialistas apoiam que bovinos livres de febre aftosa com vacinação sejam comercializados sem restrições. 

Essa foi a principal conclusão de mais de 60 representantes dos setores público e privado, acadêmicos e membros de organizações da sociedade civil da América do Sul envolvidas com a produção de alimentos, durante encontro virtual organizado pelo TAFS Forum, organização independente com sede na Suíça, dedicada à investigação da segurança de alimentos derivados de animais. 

Durante o encontro, os especialistas explicaram os avanços científicos alcançados nas últimas décadas no conhecimento e controle da febre aftosa, graças ao aprimoramento das vacinas e dos métodos de diagnóstico. 

Assim, defendem, que hoje é fundamental promover uma mudança de paradigma que renove a visão do estatuto “livre de febre aftosa com vacinação” e o iguale a “livre de febre aftosa sem vacinação”.

A oportunidade serviu para a apresentação de um documento de proposta elaborado pelo Fórum TAFS e a Fundação Argentina para a Promoção da Inocuidade Alimentar, no qual um grupo de especialistas apresentou os argumentos segundo os quais, com base nos desenvolvimentos científicos dos últimos anos e do estado atual do conhecimento, é conveniente e sustentável modificar a consideração do status “livre de febre aftosa sem vacinação”. 

“A vacinação contra a febre aftosa é hoje uma verdadeira apólice de seguro para a produção animal e tem permitido uma maior resiliência contra a propagação do vírus”, disse Ulrich Kihm, fundador e presidente do Fórum TAFS.

Kihm afirmou que a vacinação também evita, em caso de surto, o abate desnecessário de animais sadios, o que hoje não é mais aceito pela população.

Por sua vez, Carlos Van Gelderen, presidente da Fundação para a Promoção, Investigação, Educação e Segurança Alimentar, detalhou as reconhecidas e validadas metodologias internacionais que sustentam a mudança de paradigma e devem ser consideradas nas normas comerciais vigentes.

“Não se trata de uma negociação entre status, mas de adaptação aos conhecimentos científicos mais recentes”, acrescentou, que exortou a região a negociar em bloco e, com a articulação de esforços públicos e privados, uma mudança de visão das organizações comerciais internacionais.

Progresso da vacina
O documento de proposta do Fórum TAFS e do Prosaico revela que, graças às vacinas, avanços tecnológicos e melhores serviços veterinários, 11 dos 12 países sul-americanos exportam carne e seus derivados com segurança há mais de 30 anos. 

Pedro Moura, da organização dedicada à saúde animal Safoso, apresentou um estudo e concluiu que, para além do fato da equivalência do status ser recomendada para promover a segurança alimentar, também é recomendada por razões econômicas.

“A proteção contra a febre aftosa em todos os países com vacinação garante a continuidade do comércio internacional e protege as economias contra surtos, que podem ser choques devastadores”, explicou.

Assim, a mudança de paradigma para a equivalência na consideração do status com e sem vacinação é apoiada pela ciência e garantirá maior previsibilidade e confiabilidade dos mercados e cadeias de valor internacionais, acrescentou Moura.

Nesse sentido, o especialista Patrick Buholzer, da TAFS, revisou os últimos surtos ocorridos em diversos países, como o Reino Unido em 2001 e a Coreia do Sul em 2010, e suas dramáticas consequências. 

“Hoje o vírus salta de um continente para outro porque estamos muito conectados e há um enorme trânsito de mercadorias e pessoas. O prejuízo econômico dos surtos é tão grande que até o peso das restrições afeta outros setores da economia, além da alimentação”, afirmou.

Proteína 
Jorge Bonino, especialista da Associação Rural do Uruguai (ARU), também participou da reunião, e afirmou: 

“Nós devemos aproveitar a vacina como mais uma ferramenta dentro de um programa de controle, assim como a pandemia de Covid-19 nos ensinou. Sabemos que o mundo precisa de proteína animal, pois a população continua crescendo, e nossa região tem mais de 200 milhões de cabeças de gado; é nossa obrigação contribuir com o que o mundo exige”.

Bonino considerou que os países sul-americanos deveriam promover junto às instituições que regem o comércio mundial o debate sobre uma mudança de paradigma na visão e controle da febre aftosa no mundo, que resultaria em melhor acesso ao comércio, favoreceria o bem-estar e contribuiria para a segurança alimentar mundial.

“Hoje, a ciência apóia uma mudança de paradigma”, destacou Ingrid Bergman, pesquisadora do Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas (Conicet) da Argentina.

“Ainda existe um mito que remonta à década de 1960, que sustenta que, quando vacinado, a atividade viral pode ser ocultada. Esse pensamento é típico de uma época em que tínhamos vacinas ruins e não havia métodos de diagnóstico confiáveis. Hoje existem novos métodos, independentemente de o animal estar vacinado, e é possível obter uma boa imunidade de rebanho, para que o vírus não continue circulando. As vacinas atuais são de boa qualidade e alta potência e são rigorosamente controladas tanto no processo quanto no produto final. É necessária uma mudança de visão para salvaguardar a segurança alimentar na região e no mundo”.