Enfermeiro de Centro de Atenção Psicossocial foi esfaqueado por paciente em surto.

Falta de leitos de psiquiatria sobrecarrega postos de saúde
Após ataque a profissional, segurança foi reforçada em Caps. / Foto: Bruno Henrique / Correio do Estado

A falta de leitos de internação psiquiátrica tem provocado série de problemas em diversas áreas da saúde pública em Campo Grande, inclusive relativa à segurança de pacientes e profissionais nas unidades da Secretaria Municipal de Saúde (Sesau). O ataque ao enfermeiro Ubirajara Viana Ferreira, 35 anos, na tarde de quarta-feira (11), no Centro de Atenção Psicossocial (Caps III), no Bairro Aero Rancho, comprovou a fragilidade em relação ao atendimento de casos de urgência e emergência.

O local tem 14 leitos para internação e todos estão ocupados. Porém, os pacientes devem ficar no Caps de forma temporária, enquanto aguardam transferência para uma unidade hospitalar definitiva, mas a espera pode demorar. A servidora pública Andréia Maria da Silva, 44 anos, acompanha o filho, de 21 anos, que tem problemas mentais desde domingo (8) no Caps. “Ele precisa de transferência para o hospital, mas não tem vaga. O jeito é esperar”.

No momento do ataque ao profissional da saúde, que foi esfaqueado por Carlos Gomes da Silva, 34 anos – paciente em surto –, os doentes internados e acompanhantes fizeram uma força-tarefa para se protegerem. “A gente escutou a gritaria, correria, foi um horror. Saímos fechando as janelas e as portas. Foi muito triste”, afirmou Andréia.

Ontem, dois guardas municipais faziam a segurança na entrada do Caps, que fica ao lado da unidade de saúde 24 horas do Aero Rancho. Até então, havia apenas um agente de segurança no Centro Regional de Saúde (CRS), porém, a partir de agora, de acordo com a Guarda Civil Municipal (GCM), serão quatro profissionais e as rondas na região também ganharão reforço, por tempo indeterminado.

A falta de segurança nos postos é antiga, de acordo com o vereador Hederson Fritz (PSD), que é enfermeiro. “As unidades com horário estendido e as que ficam abertas 24 horas estão sem guardas. Pedimos a intervenção para a equipe, que seria atendida nesta quinta-feira [12] à tarde. Além disso, precisa haver efetivamente providências quanto à segurança dos postos. Estamos cobrando há mais de dois anos”, disse.

As medidas de segurança são vistas com cautela por representantes da classe de enfermagem. O presidente do Conselho Regional de Enfermagem de Mato Grosso do Sul (Coren-MS), Sebastião Junior Henrique Duarte, vistoriou a unidade ontem e conversou com os profissionais da área. “Na verdade, os casos de violência são diários, desde verbais a físicos. Mas os problemas são inúmeros, especialmente relacionados ao deficit de profissionais de enfermagem, e sabemos de outros também. A gente considera este ataque uma fatalidade, por ser uma pessoa com problemas mentais e que não responde por si. Paciente psiquiátrico a gente nunca sabe quando vai entrar em surto”.

A situação mais grave, para o representante dos enfermeiros, é justamente relativa à limitação de atendimento da unidade. “A capacidade da unidade é limitada. Na escala de serviço, são cinco técnicos de manhã e quatro à tarde, e ainda tomaram o cuidado de colocar dois do sexo masculino em cada turno, por terem mais força física do que as mulheres. Mas a maioria dos profissionais são mulheres”.

MENOS LEITOS

A perda dos leitos psiquiátricos de internação da Santa Casa de Campo Grande, há quase dois anos, também provocou agravamento dos problemas da área na rede que atende pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS). Atualmente, são apenas 42 leitos de internação hospitalar no Hospital Regional (HR), com 12 para casos de usuários de álcool e drogas, e outros 30 para situações psiquiátricas no Nosso Lar. “O Caps é pequeno, são 14 leitos e atendimento ambulatorial que é 24 horas. Mas o suporte maior é do CRS, que tem um generalista. Ainda falta muita retaguarda de hospital para a rede, que está só parcialmente estruturada para atender a saúde mental”, afirma Duarte.

Em nota, a Sesau afirmou que estuda “formas para resguardar a segurança de seus servidores” e avalia “quais as melhores formas para aumentar a segurança nas unidades, seja com a implementação de mais pessoal da área ou outras alternativas que garantam a qualidade do trabalho e a manutenção da ordem nesses locais”. 

O enfermeiro atacado passou por cirurgia ortopédica na Santa Casa na tarde de quarta-feira (11). Ontem, ele estava em observação no hospital e aguardava avaliação para outros procedimentos cirúrgicos por ter sido ferido no fígado e em um dos rins. Ferreira recebeu visita do prefeito Marcos Trad e também do titular da Sesau, José Mauro Filho.