Até quando? Recorrência e nível das gafes têm chamado mais atenção que o habitual

Falta de decoro? Novidade de jornais nacionais é atribuir a MS fatos que não aconteceram aqui
Até quando? Recorrência e nível das gafes têm chamado mais atenção que o habitual / Foto:  Marcos Ermínio, Jornal Midiamax

Cometer o mesmo erro uma vez até vai, já estamos acostumados. Duas é sinal de alerta. Mas a terceira, em menos de um mês, e ainda realizada por um renomado jornal nacional soa no mínimo falta de decoro com Mato Grosso do Sul.

Afinal, é burrice ou dificuldade em geografia? Periódicos brasileiros, incluindo um centenário, têm cometido erros grotescos quando as notícias envolvem estados do centro-oeste. Nesta terça-feira (1º), escancararam até em título que a jovem namorada do adolescente que matou a família em Goiás foi apreendida em Mato Grosso do Sul.

Em um dos textos, além do título, a informação se repete nas primeiras linhas: “ela foi detida em Mato Grosso do Sul”, sem mencionar qualquer cidade. Já no terceiro parágrafo, a mesma reportagem troca o nome do Estado por “Mato Grosso”, como se um fosse sinônimo do outro.

Pera lá, a garota de 14 anos vive em Mato Grosso ou Mato Grosso do Sul? Para jornalistas do eixo Rio-São Paulo, os territórios parecem não fazer diferença. Sem qualquer preocupação, cometem gafes geográficas primárias e atribuem a uma unidade federativa algo que não aconteceu na região.

Ficou confuso? Pois bem, qualquer leitor também. A título de esclarecimento, a adolescente foi apreendida na cidade de Água Boa, em Mato Grosso, ainda que o noticioso informe que a apreensão se deu em MS e, no terceiro parágrafo, se contradiga ao dizer que os policiais agiram em MT.

Horas já se passaram e a reportagem segue no ar, tal como descrito acima, sem qualquer correção.

Só piora
Nada novo sob a luz do sol, não é mesmo? O equívoco, aliás, poderia ser assunto batido para os sul-mato-grossenses, se não fosse o fato do mesmo veículo ter cometido a mesma gafe outas vezes nas últimas semanas.

No início de junho, noticiaram que o montanhista desaparecido no Perú era natural de Campo Grande (MS) e toda a imprensa nacional, incluindo a local, entrou na onda, confiou na apuração e reproduziu o dado divulgado pelo portal ultra renomado.

Contudo, dias depois, a informação foi refutada pela família: Edson Vandeira não nasceu em Mato Grosso do Sul: era natural da cidade de Suzano (SP) e havia morado por apenas três anos em Campo Grande, de 2016 a 2019. Que coisa!

Uma semana depois, no dia 12, o mesmo jornal voltou a tropeçar quando a notícia envolvia o Estado. Eles noticiaram que Kako de Akishino, princesa do Japão, visitou Campo Grande, em Mato Grosso. Agora, nesta terça (1º) a “novidade” foi dizer que algo que ocorreu em MT, na realidade, teria ocorrido em MS. É dose?

O que explica?
Com tantos casos cometidos pela mesma equipe de jornalismo de um dos veículos de comunicação mais importantes do país, a questão que assombra os sul-mato-grossenses é: o que está por trás desses erros? Equipes inexperientes? Jornalistas que faltaram às aulas de geografia na escola? Desprezo pela região? Ou simplesmente falta de decoro com o Estado?

Trocar MS por MT e vice-versa é absolutamente comum para a imprensa nacional, mas não deveria, principalmente quando a recorrência evidencia e denúncia as gafes: é paulista que nasceu aqui, princesa que não visitou o Estado e adolescente envolvida em um crime de grande repercussão foi apreendida em nosso território.

Mato Grosso foi dividido há quase 48 anos, em outubro de 1977, e é válido dizer que a maioria dos profissionais que atuam nas redações nasceram após a divisão. Quase cinco décadas depois, é inaceitável que aqueles que têm o dever de informar continuem confundindo MT com MS – apesar da troca não se restringir à imprensa e boa parte dos brasileiros que não são daqui também tratarem a nomenclatura dos estados com banalidade.

Até quando?