
O consumo consciente de água é sinônimo de preservação ambiental e economia no bolso, mas no Presídio de Trânsito de Campo Grande também significa prevenção de rebelião e tumultos. Segundo Claudiomar Suszek, diretor da unidade penal, situações de falta de água interferem diretamente no comportamento dos presos. Pensando em economizar e evitar o problema, a unidade entrou em uma campanha de conscientização.
"[Preocupação era] A questão de falta de água e o que pode acarretar essa falta. Uma cela sem água, com internos fechados, pode gerar um tumulto, gerar uma insegurança e atos de indisciplina. Então, a grande preocupação que nós tínhamos era essa", ressaltou.
Com ajuda dos presos e o trabalho de um detento, que adaptou uma peça para controlar a vazão de água nos chuveiros, o presídio reduziu 30% o consumo de água entre maio e julho, e ajudou a economizar R$ 267 mil na conta de Mato Grosso do Sul.
"Existia desperdício, mas com a ajuda dos funcionários e dos presos, conseguimos diminuir", explicou. Antes da adaptação feita por um preso, o gasto médio da unidade era de 120 litros de água a cada cinco minutos de banho. Depois da instalação, o consumo médio foi para 50 litros a cada cinco minutos, segundo a Águas Guariroba.
Radical
No Presídio de Trânsito, um mecanismo permite restringir e controlar o uso de água dos presos através de válvulas, mas a medida seria radical, segundo Claudiomar.
"Numa necessidade ou emergência, podemos simplesmente fechar os registros e a água das celas vai ser cessada [...] Mas, nós preferimos trabalhar com a conscientização dos presos, até porque somente as unidades mais modernas têm esse controle. Nas demais, não temos. Então a gente prefere fazer a conscientização dos presos, para podermos ter um rendimento melhor em todo o complexo", justificou.
O sistema permite controlar a vazão de água das celas de presídio. Quando as válvulas estão para baixo é porque o registro das celas estão fechados. Geralmente, isso acontece em celas que estão sem presos. As válvulas viradas para cima significam que o consumo de água está acontecendo.
A unidade faz parte do complexo penitenciário da capital, que tem outros quatro presídios. O consumo de água exagerado nas unidades chamou a atenção da Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen), que começou em maio uma campanha de conscientização.
Os quase 5 mil presos das cinco unidades consumiam o equivalente a uma cidade de 17 mil habitantes, segundo a Águas Guariroba. Agora o consumo é semelhante ao de 13 mil pessoas e o objetivo é reduzir ainda mais. A quantidade de água economizada poderia abastecer uma cidade de 4 mil habitantes.
Além da conscientização, outra medida que ajudou na economia foi a troca de válvulas de descargas por caixas e a substituição da tubulação antiga, que era subterrânea e ficava escondida, de acordo com Francis Moreira Faustino, engenheira civil da Águas Gariroba e responsável pelo programa de redução de perdas em Campo Grande.
Segundo a Agepen, campanhas de conscientização são desenvolvidas em presídios do estado, explicando a importância de economizar água. Nas cinco unidades envolvidas, a redução foi de 15,8% entre os meses de maio e julho. A economia aconteceu mesmo diante do aumento do número de presos de 4.920 para 5.017 no Complexo Penitenciário.
Técnica do preso
Carlos Rodrigues de Moraes, de 47 anos, cumpre pena por tráfico de drogas há dois anos. Ele diz que se sente feliz por ajudar na economia do presídio. Eletricista de formação, Carlos foi preso levando cerca de 300 kg de cocaína em rodovia do estado.
O equipamento adaptado por ele é usado durante os banhos dos presidiários. O sistema funciona através de um tampão com um pequeno furo, que, quando ajustado à instalação hidráulica, diminui o fluxo da água e aumenta a pressão.
obre a técnica usada, Carlos diz que não tem segredo. Além do baixo custo, em torno de R$ 1 cada tampão, a instalação é simples e sem custo para o presídio, já que é feita por ele.
A adaptação foi instalada em 22 dos 44 chuveiros da unidade e também em torneiras. A meta é implantar em todos os chuveiros. A ideia de reduzir a vazão partiu do agente penitenciário Ricardo Teixeira de Brito, que sabia da necessidade economizar água.
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