A produção retoma a crítica social e política da história do Brasil, mas pula de 1822 para os anos 1930.

Estreia da segunda temporada de "Filhos da Pátria"

Foram dois anos de espera entre o fim da primeira temporada de “Filhos da Pátria” e a estreia da nova leva de episódios, marcada para o próximo dia 8. O calendário cênico, no entanto, se adiantou além da conta. A família Bulhosa, que antes vivia em um Brasil que acabara de declarar sua independência, em 1822, agora experimenta o fim da Velha República e o início da Era Vargas, em 1930. “Tratamos de época, mas falamos de acontecimentos e temas atuais. Através do humor e dos nossos tipos extremamente engraçados, criamos um diálogo relevante para a sociedade, ao chamar atenção para um fato: é o Brasil sempre achando que vai para frente, um ‘agora vai’ que ainda não foi”, analisa o autor, Bruno Mazzeo.

O segundo ano da produção terá 10 episódios. Apesar de desembarcarem um século à frente, os personagens mantêm os trejeitos e a excentricidade característicos do clã formado pelo pai Geraldo (Alexandre Nero), a mãe Maria Teresa (Fernanda Torres), o filho Geraldinho (Johnny Massaro) e a filha Catarina (Lara Tremouroux). Lucélia (Jéssica Ellen), escrava no passado, ressurge agora como a empregada dos Bulhosa, em um tempo em que direitos trabalhistas – como a folga – são uma afronta à patroa. “Esse movimento de trazer os mesmos personagens para outro período histórico é muito estimulante. Os comentários críticos e os posicionamentos daquela família serão experimentados em um novo lugar, o que nos dá a liberdade de reinventar dentro de um mesmo produto”, diz o diretor o artístico da série, Felipe Joffily.

Geraldo faz carreira no funcionalismo público, enquanto sua esposa, Maria Teresa, continua uma obcecada por fazer parte da alta sociedade. O primogênito da família, Geraldinho, segue inconsequente, amante da subversão ideológica. Já Catarina volta de uma temporada em São Paulo com ideias feministas: ela decide trabalhar e luta por salários iguais entre homens e mulheres. “‘Filhos da Pátria’ apresenta um olhar cômico e terrível sobre nós mesmos, quase um estudo antropológico das nossas mazelas eternas e da nossa fundação. A Maria Teresa somos nós, é uma tia, é alguém que conhecemos. Todos temos algo dela. Algumas pessoas mais, outras menos”, reflete Fernanda Torres, sobre sua própria personagem.

Além deles, Domingos (Serjão Loroza), padrinho de Lucélia, é um sambista que, vítima das demissões em massa decorrentes da quebra da bolsa em 1929, passa a viver de bicos e da venda de suas músicas, sempre mal pagas. Pacheco (Matheus Nachtergaele) faz parte do alto escalão do Palácio do Catete e é quem leva Geraldo à sede do governo, com um principal objetivo: queimar os arquivos públicos, tacando fogo na memória oficial. “Geraldo não é um tipo maquiavélico, é um homem simples que vai sendo levado pelas circunstâncias, como qualquer um poderia fazer e, algumas vezes, faz. Ele se enfeitiça pelo pequeno poder. É o cara que cumpre ordens sem questioná-las, porque tem medo de tudo: de perder o emprego, dos militares, de morrer, da tortura, da mulher”, define Alexandre Nero.

Formas de expressão

Para retratar o conturbado período de início da Era Vargas no Brasil, a caracterização e o figurino ganham posições importantes nas cenas de “Filhos da Pátria”. Para a figurinista Paula Carneiro, os trajes levantam curiosidades sobre as formas da época e revelam as influências dos estilos e a distinção social do Rio de Janeiro pós-Belle Époque. Sendo assim, chapéus e luvas serão constantes nas mulheres, assim como os paletós nos homens. “Pensamos em um figurino que serve à história e que se enquadra à comédia. Levamos em conta o cotidiano, o que se usava no dia a dia”, explica.

Para o Geraldo, por exemplo, os ternos são quase dois números maiores que o manequim original e tiveram as ombreiras retiradas. Uma espécie de auxílio para Alexandre Nero, dando uma postura mais caída ao ator. Nas roupas de Catarina é que se vê um lado mais contemporâneo em relação ao período. “Ela é uma personagem para a frente, uma explosão, quase um editorial de moda”, conta a figurinista. Assim como acontece no figurino, a caracterização tenta aprofundar traços psicológicos dos personagens. “De uma forma geral, a maquiagem é mais natural. Ousamos um pouco durante a gravação das cenas de carnaval, tanto nos cabelos quanto nas cores da maquiagem”, explica Rubens Libório, o caracterizador desta segunda temporada. Os cabelos das mulheres têm ondas, como as usadas na época. Já Geraldo usa um penteado partido ao meio e bigode. “Como está sempre com medo de tudo, Geraldo transpira muito. Ficou um pouco Chaplin, bem engraçado”, exemplifica Libório.