Entre os anos de 1961 e 2017, o Brasil ficou de 3° a 4°C mais quente, de acordo com a Rede Clima, a Rede Brasileira de Pesquisas Sobre Mudanças Climáticas Globais.

Especialistas cobram medidas para reduzir mudanças climáticas
Seminário da Comissão de Meio Ambiente da Câmara sobre mudanças climáticas. / Foto: Michel Jesus/Câmara dos Deputados / Seminário

Em seminário promovido pela Comissão de Meio Ambiente da Câmara na quarta-feira (5), especialistas afirmaram que providências para reduzir as mudanças climáticas precisam ser tomadas, pois os efeitos já prejudicam a sociedade e setores da economia brasileira.

Entre os anos de 1961 e 2017, o Brasil ficou de 3° a 4°C mais quente, de acordo com a Rede Clima, a Rede Brasileira de Pesquisas Sobre Mudanças Climáticas Globais.

Segundo o professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo Paulo Artaxo, o Nordeste, por exemplo, já tem maior frequência de períodos de seca na região semiárida, o que afeta as atividades agropecuárias e o nível dos reservatórios de água criados para abastecimento público.

A Rede Clima aponta ainda que a temperatura média do ar no ano passado ficou 0,7°C acima da média registrada entre os anos de 1981 e 2010.

Uma publicação do órgão de pesquisa mostra que a maior frequência de temperaturas máximas diárias mata as flores do café, laranja e feijão e muda o processo de germinação das sementes de frutas como maçã, ameixa e uva, ainda segundo o órgão de pesquisa.

De acordo com a cartilha, o Brasil perdeu 20 milhões de caixas de laranja e 50% da produção da safrinha de milho no Mato Grosso no ano passado devido às mudanças climáticas.

Outra consequência é o aumento da incidência e distribuição geográfica de insetos que transmitem doenças como febre amarela e dengue.

Para sanar esses problemas, a solução, segundo o professor Paulo Artaxo, é apenas uma: reduzir a emissão de gases do efeito estufa.

"Tanto reduzindo o desmatamento da Amazônia, quanto reduzindo a queima de combustíveis fósseis nos países desenvolvidos e nos países em desenvolvimento."

Artaxo citou dados do Projeto de Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite (Prodes) que mostram o auge do desmatamento na região, em 2004, quando 28 mil km2 foram desmatados.

Até 2012, houve queda foi gradativa chegando a 4 mil km2 de desmatamento, segundo o Prodes. "Mas vem subindo desde então, quando alcançou 8 mil km2 desmatados em 2018", informou Artaxo.

Desastres naturais
O chefe da Divisão de Pesquisas do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), José Marengo, chama a atenção para o possível processo de desertificação da região do semiárido localizada principalmente no norte da Bahia.

Segundo ele, as mudanças climáticas das últimas décadas provocam não apenas seca, mas chuvas.

De 1991 a 2012, houve quase 39 mil desastres naturais no Brasil. Pouco mais de 22% ocorreram no triênio entre 2010 e 2012, sendo os mais frequentes a estiagem e as enxurradas.

Na visão do professor Roberto Schaeffer, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, podem existir desacordos sobre a intensidade dos impactos que as mudanças climáticas provocam, mas não em relação às mudanças.

"O que existe é a incerteza, se, do jeito que a gente caminha, a temperatura média do planeta vai se elevar em 2, 3, 4 graus, mas não sobre o fenômeno em si, que já está ocorrendo."

O professor lembrou que o Brasil é um dos 190 países que assinaram o Acordo de Paris, assumindo o compromisso de reduzir 37% das emissões de gases do efeito estufa até 2025, em relação a 2005; e reduzir 43% até 2030.

Emenda de Kigali
O presidente da Comissão de Meio Ambiente, Rodrigo Agostinho (PSB-SP), afirmou que a Câmara precisa pautar projetos que combatam o desmatamento ilegal e criem benefícios para o uso de energia limpa.

Ele cita, por exemplo, a chamada Emenda de Kigali (PDC 1100/18), acordo para reduzir emissão de gases que impactam o aquecimento global. "Um projeto muito positivo que está na pauta para ser votado aqui", declarou.

A Emenda de Kigali integra o Protocolo de Montreal sobre substâncias que destroem a camada de ozônio. O protocolo é de 1987, mas a emenda foi adotada em 2016 na capital da Ruanda.

O projeto deve entrar na pauta da Comissão de Meio Ambiente, nos próximos dias, segundo Rodrigo Agostinho.