Executivo admite que a empresa fez 'pagamentos indevidos a agentes públicos' e disse que no exterior a companhia cresceu 'sem transgredir valores éticos'.

Joesley Mendonça Batista. Brasil, São Paulo, SP. 28/11/2012. Joesley Batista, presidente da J&F;, grupo que controla o frigorífico JBS, posa para fotografia na sede da empresa em São Paulo. / Foto: Jonne Roriz/Estadão Conteúdo

O dono do Grupo JBS, Joesley Batista, admitiu o pagamento de propina a políticos e pediu "desculpas a todos os brasileiros" em carta divulgada nesta quinta-feira (18). O texto foi apresentado após a divulgação de gravação de conversa entre o empresário e o presidente da República, Michel Temer.

Na carta, o executivo afirmou que a empresa fez "pagamentos indevidos a agentes públicos". "Nosso espírito empreendedor e a imensa vontade de realizar, quando deparados com um sistema brasileiro que muitas vezes cria dificuldades para vender facilidades, nos levaram a optar por pagamentos indevidos a agentes públicos", disse o executivo, na carta.

Ele admitiu que foi um erro e disse que "não tem justificativas". Ele afirmou que o grupo cresceu no exterior com práticas diferentes das adotadas no Brasil. "Em outros países fora do Brasil, fomos capazes de expandir nossos negócios sem transgredir valores éticos."

O texto diz ainda que a empresa assinou acordos com o Ministério Público e se coloca "à disposição da Justiça para expor, com clareza, a corrupção das estruturas do Estado brasileiro".

Veja a íntegra da nota enviada por Joesley Batista, dono da JBS:

"Erramos e pedimos desculpas.
Não honramos nossos valores quando tivemos que interagir, em diversos momentos, com o Poder Público brasileiro. E não nos orgulhamos disso.

Nosso espírito empreendedor e a imensa vontade de realizar, quando deparados com um sistema brasileiro que muitas vezes cria dificuldades para vender facilidades, nos levaram a optar por pagamentos indevidos a agentes públicos.

Ainda que nós possamos ter explicações para o que fizemos, não temos justificativas.

Em outros países fora do Brasil, fomos capazes de expandir nossos negócios sem transgredir valores éticos.

Assim construímos um grupo empresarial gerador de mais de 270 mil empregos diretos, com times extraordinários e competentes, que operam 300 fábricas em cinco continentes e oferecem mundialmente produtos de qualidade.

O Brasil mudou, e nós mudamos com ele. Por isso estamos indo além do pedido de desculpas. Assumimos aqui um Compromisso Público de sermos intolerantes e intransigentes com a corrupção.

Assinamos acordos com o Ministério Público. Concordamos em participar de alguns dos mais incisivos mecanismos de investigação existentes e nos colocamos à disposição da Justiça para expor, com clareza, a corrupção das estruturas do Estado brasileiro.

Pedimos desculpas a todos os brasileiros e a todos que decepcionamos, que acreditam e torcem por nós.

Enfrentaremos esse difícil momento com humildade e o superaremos acordando cedo e trabalhando muito.
Joesley Batista"
 
Crise política
 
Reportagem publicada no site do jornal "O Globo" nesta quarta (17) informou que Joesley Batista entregou à Procuradoria Geral da República (PGR) gravação de conversa na qual ele e Temer falaram sobre a compra do silêncio do deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso na Operação Lava Jato.

Após a divulgação notícia sobre a gravação da conversa, Temer fez um pronunciamento na tarde desta quinta negando que tenha a intenção de renunciar à presidência da República.

Em razão das delações da JBS, o ministro do Supremo Tribunal Federal Luiz Edson Fachin, relator da Lava Jato no STF, autorizou a abertura de um inquérito para investigar o presidente.

Em meio à turbulência política, o relator da proposta de reforma da Previdência, Arthur Maia (PPS-BA), divulgou uma nota afirmando que não há espaço para avançar com o projeto no Congresso. O relator da reforma trabalhista nas comissões de Assuntos Econômicos (CAE) e Assuntos Sociais (CAS) do Senado, Ricardo Ferraço (PSDB-ES), suspendeu o calendário de análise da proposta em razão da "crise institucional".

Em meio às incertezas envolvendo as reformas econômicas, o mercado financeiro brasileiro teve um dia de forte turbulência. Nesta quinta, o dólar subiu 8,15%, a R$ 3,389 na venda, na maior valorização diária em 18 anos.

A Bovespa também foi impactada pelas incertezas, e terminou o dia em queda de 8,8%, a 61.597 pontos - a maior baixa diária em quase 9 anos. Pela manhã, os negócios chegaram a ser interrompidos por causa da forte oscilação, com o principal indicador da bolsa caindo 10,47%.