Sabe aquele clichê de que os opostos se atraem, na vida de Alexandre e Natacha, isso virou receita para uma felicidade que dura 24 anos.

Entre a calma e a inquietude, casal viu nas diferenças o segredo para o amor
Natasha e Alexandre, protagonizam uma história em que as diferenças são aquela pitadinha que a gente busca para viver um grande amor. / Foto: Thailla Torres

Juntos há 24 anos, Natacha e Alexandre são a certeza que nenhuma diferença no mundo é capaz de se sobressair ao amor. Ele é produtor de vídeo, ela artista plástica. Ele com uma calma até no jeito de falar, ela com uma euforia e inquietude pela vida que também inspira, juntos se encontraram em um período muito desafiador no passado. Mas enquanto muita gente pensava que nada poderia dar certo diante das diferenças, hoje eles protagonizam uma história de companheirismo que parece fazer falta nos relacionamentos atuais.

Os dois se conheceram quando ela estava na faculdade, em 1994, cursando Engenharia na UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul). As primeiras palavras vieram de uma “cantada barata”, lembra Natacha. “Ele me perguntou se eu era do Rio Grande do Sul, só para puxar papo”. Não demorou dias para um novo contato, apesar da resistência dela em querer conhecer alguém. “Eu sempre fui muito moleca, não me interessava, nunca fui de querer muitos caras, era só o meu jeito”.

 
Uma das fotos preferidas dela, juntos no tempo da faculdade. (Foto: Arquivo Pessoal)
Mas um dia resolveu dar chance a Alexandre Bernardo Radtke, de 47 anos, e nunca esqueceu os primeiros abraços, nem a camisa xadrez com cheiro de gaveta de madeira que vestia sempre. Juntos começaram a vida adulta que já estava bem difícil e logo nos primeiros anos de namoro, um desafio colocou à prova a relação de amor.

“Eu tive crises de pânico e ansiedade. Logo mais fui diagnosticada com a síndrome do pânico e ansiedade crônica, iniciei um tratamento que me obrigou a trancar a faculdade, foi um longo período dentro de casa, sem conseguir dar uma volta na quadra longe da crise”.

Naquele período Natacha Figueiredo Miranda, de 45 anos, comanda pela incerteza sobre a própria saúde, chegou a dizer a Alexandre sobre todos os problemas sem saber o que ele faria a relação. “Porque eu tinha um problema, pensaria se ele estaria disposto a esse problema, mas fui clara, afinal, eu mal conseguia sair de casa”.

Alexandre em sua vez passou a transformar os dias de Natacha. “Eu estava muito apaixonado por ela, jamais abandonaria, sabia que podíamos lutar contra aquilo junto”.

Ainda nos anos 90, Alexandre comprou um celular e passou a usá-lo para tirar Natacha das crises. “É um episódio muito interessante, porque eu sabia que o pai dela tinha telefone em casa. Então eu ia até lá, dava o celular na mão dela e falava para ela andar na rua. Assim que ela começasse a se sentir mal, ela podia usar o celular para ligar em casa”.
 
Um gesto hoje lembrado com muita risada, assim como as crises que também foram fotografas por Alexandre para um que dia sentassem juntos no sofá e dessem risadas dos momentos mais desafiadores. “Temos muitas fotos e toda vez a gente ri. Mas continuo meu tratamento até hoje, tenho uma vida regrada para manter minha saúde mental, mas o meu maior remédio é a minha família”.

Com dois filhos lindos, é quase impossível não se inspirar com a leveza como o casal leva a vida. No lugar do pai, Natacha é quem sempre foi jogar bola no quintal com os meninos, enquanto Alexandre ficava na cozinha fazendo salgados e preparando a baciada de pipoca e suco no final do dia.

Com o primeiro filho ainda pequeno, Natacha e Alexandre resolveram oficializar a união no religioso, para que o filho pudesse ser batizado. Mas longe dos padrões, ela nem cogitou entrar na igreja de branco. "Não era mais virgem", ri. "Também não queria nada glamouroso, nosso casamento não dependia daquilo, por isso entre de vestido marrom", conta folheando os álbuns.

Dentro de casa também foram poucas brigas, apesar das diferenças. Alexandre, aparentemente mais metódico, era quem se preocupava em ver as paredes de casa limpas, até que um dia os filhos resolveram rabiscar tudo e fazerem “arte”, igual a mamãe, artista plástica e arquiteta que nunca parou de pintar em casa. “O Alexandre ficava doido, mas um dia resolveu deixar essa preocupação de lado e deixamos uma parede inteira na escada para eles pintarem. Depois de crescido, conseguimos deixar a parede limpa”, conta Natacha.

No mundo dos padrões o casal também é alvo de esteriótipos. Com estilo despojado dos dois lados, muita gente já chegou a falar para a Natacha que ela é gay só por não abrir mão da camiseta larga e o bermudão no dia a dia. "As pessoas tem uma necessidade tão grande de esteriotipar ou rotular as outras, que eu tenho amigos que até hoje dizem que eu não saí do armário, mas eu não tenho para onde ir, meu mundo é o Alexandre, não é uma roupa que muda o que eu sou ou deixo de ser". 

Alexandre concorda e acredita que hoje os olhares são mais leves. "A gente viveu uma geração severa de bullyng, Natacha ouviu muita coisa na faculdade, especialmente, de pessoas que chegaram a dizer que ela parecia um homem. Mas ela não é um homem, ela só usa a roupa que lhe faz se sentir bem e eu sempre amei isso nela. É o jeito moleca que eu conheci lá na década de 90".

Tanta cumplicidade foi oficializada no civil recentemente, não por padrões, mas por um sonho que a família vai viver no próximo ano. "Casamos na Justiça Itinerante, com chipa e café, mas porque vamos mudar de país com as crianças. Viver uma nova etapa e novos planos", revela Natacha, com sorriso de quem não tem medo de continuar sendo feliz e provando que no amor, as diferenças são receitas mágicas.