No Estado, estima-se que sobrará mais produto no mercado interno, com isso o preço tende a cair, diz secretário.

Entenda o motivo de alarde em relação ao
No Estado, estima-se que sobrará mais produto no mercado interno, com isso o preço tende a cair, diz secretário. / Foto: Marcelo Victor

Diante da confirmação de um caso de Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB) ou "mal da vaca louca", no Pará, ficou suspensa a exportação de carne brasileira para a China, algo que afeta frigoríficos em Mato Grosso do Sul e em todo país. Entenda porque a medida causa tanto alarde e repercute mundialmente. 

Tal suspensão da comercialização ocorre em função de um protocolo que existe desde 2015. O documento assinado pela China e Brasil determina o autoembargo das vendas quando há registro da doença. 

Isso porque em caso típico, ou clássico, da doença há chances da mesma ser transmitida ao homem, explica a Agência Estadual de Defesa Animal e Vegetal (Iagro), em material de divulgação sobre a doença. 

Já no caso atípico, o qual parece ser o que ocorre no Brasil nesse momento, não há risco de contaminação aos humanos ou a outros animais. 

Quando atípica, a doença ocorre geralmente em bovinos mais velhos, que espontaneamente desenvolvem uma proteína defeituosa que atinge o sistema nervoso central. 

Mesmo com evidências de um caso atípico, o protocolo de segurança ainda é adotado, para contar qualquer dano possível ou imprevisto. 

A doença é considerada grave e não tem cura. Além de mortal, ela provoca prejuízos aos produtores e economia. 

Nomenclatura  
As agências de saúde animal em geral explicam que a doença afeta o sistema nervoso dos bovinos, fazendo com que fiquem com o comportamento alterado, por isso o nome "vaca louca".

Transmissão  
No grupo de animais, na forma típica, a EEB ocorre por meio da ingestão de farinhas de carne e ossos, tecidos nervosos, cama-de-aviário, dejetos de suínos ou qualquer outro tipo de alimento que contenha em sua composição proteínas de origem animal. Já na forma atípica, não há risco de transmissão. 

Em relação ao ser humano, o problema surge a partir da ingestão da carne contaminada do caso atípico, ou, em alguns casos mais raros, por meio da transfusão de sangue e seus derivados, provenientes de seres humanos contaminados.

Torna-se importante deixar claro que, segundo o Ministério da Saúde, o caso típico que pode ser transmitido aos humanos, o qual passar por uma mutação ocasionando na variante CreutzfeldtJakob (vDCJ). 

Tal variante pode se manifestar, geralmente, em pessoas jovens, que apresentam uma rápida deterioração cerebral.

O Ministério da Saúde aponta, ainda, que, geralmente, o paciente apresenta sintomas tipicamente psiquiátricos e inespecíficos, comportamentais e sensoriais. Veja a lista: 

O órgão destaca, sobretudo, que nesse caso, não há cura e o paciente costuma ir a óbito em até um ano. 

Consumo da carne ficou perigoso? 
Diante da suspensão da exportação da carne à China, parte da população brasileira se questiona sobre a segurança em relação ao consumo de carne. 

Sobre isso, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) garante não existir preocupações no momento, sendo o consumo seguro. 

"Seguindo o protocolo sanitário oficial, as exportações para a China serão temporariamente suspensas a partir desta quinta-feira (23). No entanto, o diálogo com as autoridades está sendo intensificado para demonstrar todas as informações e o pronto restabelecimento do comércio da carne brasileira", disse o Ministério da Agricultura, em nota.
Eles garantem que a autoembargo é apenas um protocolo. "O governo do Brasil preza muito pelo respeito aos países parceiros. Queremos continuar garantindo o suprimento de produtos de alta qualidade e sabemos das nossas obrigações e deveres, fazendo isso com total transparência, determinação e agilidade", explicou o ministro MAPA, Carlos Fávaro. 

Caso no Brasil 
A amostra do exame que confirmou a EEB em um touro de 9 anos, criado em pasto, em uma pequena propriedade no Pará, foi encaminhada para análise do laboratório de referência da Organização Mundial de Saúde Animal, em Alberta, no Canadá, onde poderá ser confirmada a ocorrência atípica da doença.

Passado 
As autoridades estimam que o primeiro caso histórico da doença tenha ocorrido em meados de 1980, no Reino Unido. 

Em 1990, a doença chegou a alguns países da Europa, período em que houve um surto de casos. 

Nesse mesmo período, foram registrados os primeiros casos de contaminação em humanos, com a variante vDC. 

Entretanto, o Ministério da Saúde brasileiro destaca que, à época, nenhum caso da variante foi confirmado no Brasil. 

Mesmo assim, o Brasil dota desde então medidas de contenção do risco de chegada da doença no País. 

Ações e efeitos em MS 
Frente à confirmação do caso brasileiro, o Governo de Mato Grosso do Sul vem seguindo as recomendações sanitárias do Ministério da Agricultura. 

Hoje (24), o governador Eduardo Riedel recebeu o relatório do impacto causado no mercado do Estado devido ao embargo das exportações para China e também o resumo das ações da Iagro quanto ao sistema de vigilância interna. 

"O Ministério da Agricultura e Pecuária vem adotando todas as providências governamentais para o mercado de carnes brasileiras, porém entendemos que as ações necessitam de muita agilidade por parte de nossos governantes, dado ao impacto econômico", afirma o secretário da Semadesc (Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovaçao), Jaime Verruck.

O embargo sobre a carne bovina vai impactar o mercado local já que três importantes plantas frigoríficas de Mato Grosso do Sul exportam para a China: o Naturafrig (Rochedo); FrigoSul (Aparecida do Taboado); e Agroindustrial (Iguatemi).

Segundo o secretário da Semadesc, Jaime Verruck, mesmo sendo poucos frigoríficos no Estado, o embargo vai afetar os preços do boi gordo e consequentemente a renda dos produtores, já que a composição de preço do boi China tem um peso extremamente grande para o mercado. 

"A decisão cria um impacto de redução na demanda internacional por carne. Então sobrará mais produto no mercado interno. Com isso o preço tende a cair", disse Verruck. 

Além disso, ele explica que a remuneração do mercado exterior é superior ao mercado local e de outras localidades. Logo, haverá queda na remuneração dos produtores do Mato Grosso do Sul.

No entanto, a produção de carne para outros mercados internacionais e locais deverá continuar normal no Estado.

De acordo com dados da Carta Conjuntura da Semadesc, Mato Grosso do Sul exportou, em 2022, US$ 395,5 milhões e 61,5 mil toneladas de carne bovina para a China.