A suspeita, médica Neide Mota Machado, foi achada morta em 2009.

Em momento de polêmica sobre aborto, clínica de Campo Grande fez mais de 10 mil
Clinica onde eram feitos abortos ilegais na Capital. / Foto: Reprodução IstoÉ e divulgação

Temporada de polêmica sobre interrupção da gravidez foi reaberta, dessa vez com o Projeto de Lei 1904/24, defendido sobretudo por políticos conservadores no Congresso Nacional. Campo Grande já foi destaque – negativo – no cenário nacional, há 14 anos, quando da prisão da médica falecida Neide Mota, que teria feito mais de 10 mil abortos na cidade. 

O texto é encarado pela base de apoio do Governo Lula e por ativistas políticos de esquerda como algo que criminaliza a mulher e fere o direito delas sobre o próprio corpo. O PL prevê prisão de 6 a 20 anos para mulheres que abortarem um feto após a 22ª semana de gestação.  

A polêmica tem um outro ingrediente explosivo: a pena de prisão também caberá para a mulher grávida, ainda que a gestação seja fruto de uma violência sexual. E mais. A penalidade será maior que o próprio crime de estupro, que vai de 6 a 10 anos, podendo chegar a 12 anos de reclusão se a vítima tiver de 14 a 18 anos. 

Matadouro de anjos

A médica anestesista Neide Mota Machado foi achada morta em 2009, dois anos após ser presa e investigada pela prática de mais de 20 mil abortos, em uma clínica em Campo Grande. Ela estava dentro de um carro e os indícios apontaram para suicídio por injeção de medicamento. 

A clínica de ''planejamento familiar'' ficava em uma mansão dos anos 80 na General Osório, no Bairro Amambaí, região central de Campo Grande.  A Folha de SP criou um longo podcast para falar sobre o caso de Campo Grande, que se tornou o maior processo sobre interrupção de gravidez do País. 

Segundo a Folha, Neide foi denunciada por formação de quadrilha, aborto ilegal, posse ilegal de arma e ameaça. Conforme o ativista Leonardo Rodrigues, que mora em Campo Grande, o valor cobrado das mulheres varia – com valores corrigidos pela inflação de R$ 2,6 mil R$ 52 mil. 

Rodrigues destacou na rede social o que considerou como aberração, o fato da Justiça de MS ter aberto indiciamento contra dez mil mulheres, que teriam praticado os abortos ilegais. 

''Essas dez mil mulheres representavam 40% de todas as mulheres que estavam presas no Brasil'', disse Leonardo ao reproduzir a fala do presidente da Comissão de Direitos Humanos à época do caso.