No diálogo, ela diz que um homem chamado Matheus estava explicando para ela sobre a tentativa da defesa de entrar com habeas corpus para Milton Ribeiro.

'Ele estava sabendo', diz esposa de Milton Ribeiro no dia da prisão. / Foto: Cristiano Mariz/Agência Brasil

A esposa do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro disse, em ligação interceptada no dia da prisão, que ele "estava sabendo" do que aconteceria. Uma conversa de Myrian Ribeiro foi interceptada por investigadores da Polícia Federal na operação que teve como alvo o pastor que comandava o MEC.

No diálogo, ela diz que um homem chamado Matheus estava explicando para ela sobre a tentativa da defesa de entrar com habeas corpus para Milton Ribeiro. Myrian, então, afirma que "o negócio já estava certo". 

“O Matheus estava explicando que o advogado vai tentar um habeas corpus e talvez... Fica em Santos... Ele tava, no fundo, ele não queria acreditar, mas ele estava sabendo. Para ter rumores... da alta, coisa, é porque o negócio já estava certo”, diz a esposa.

A ligação foi feita entre Myrian e um interlocutor chamado Edu e aumenta suspeitas de que as informações sobre a operação da PF que culminou com a prisão do ex-ministros foram vazadas.

Em outro áudio divulgado mais cedo, de uma conversa por telefone entre Milton Ribeiro e a filha, o ex-ministro diz que recebeu uma ligação do presidente Jair Bolsonaro, quando o chefe do Executivo levantou um temor de que Ribeiro fosse alvo de uma operação da Polícia Federal.

"Hoje o presidente me ligou... Ele tá com um pressentimento, novamente, que eles podem querer atingi-lo através de mim, sabe? [...] Ele acha que vão fazer uma busca e apreensão... Em casa, sabe... É muito triste. Bom! Isso pode acontecer, né? Se houver indícios", disse o ex-ministro.

A filha então responde: "Eu não sei se ele tem alguma informação... Eu tô te ligando do meu... Eu tô te ligando do celular normal, viu, pai?". Em seguida, Ribeiro diz: "Então depois a gente se fala".

O Ministério Público Federal (MPF) apontou possível interferência de Bolsonaro nas investigações sobre o caso e pediu que fosse enviada parte dos autos ao Supremo Tribunal Federal (STF). O juiz Renato Borelli, autor do mandado de prisão contra Ribeiro, atendeu ao pedido feito pelo MPF e enviou o material ao STF. O caso será relatado pela ministra Cármen Lúcia.

Defesa
Após o envio do processo ao STF, o advogado do ex-ministro, Daniel Bialski, questionou o pedido para prisão do cliente, feito pela 15ª Vara da Justiça Federal do Distrito Federal. No entendimento dele, se havia, de fato, alguma pessoa com foro privilegiado citada na ação (como é o caso do presidente da República), o caso deveria ter sido remetido imediatamente ao STF.

"Causa espécie que se esteja fazendo menção a gravações/mensagens envolvendo autoridade com foro privilegiado, ocorridas antes da deflagração da operação. Se assim o era, não haveria competência do juiz de primeiro grau para analisar o pedido feito pela autoridade policial e, consequentemente, decretar a prisão preventiva", afirmou o advogado, que frisou que vai pedir a anulação de todos os "atos e decisões tomadas" no âmbito do processo.

Advogado do presidente Bolsonaro, Frederick Wassef disse que o chefe do Executivo "nada tem a ver com essa história" e que ele "está sendo vítima de mentiras e calúnias". "Se porventura alguém estiver usando o nome do presidente de forma indevida, sem seu conhecimento e autorização, isso não pode ser deturpado, distorcido, tirado de contexto para tentarem responsabilizar o presidente da República", ponderou.

Wassef também garantiu que não houve nenhuma tentativa de interferência na Polícia Federal. "É um afronto desrespeito à instituição da Polícia Federal e à superintendência da Polícia Federal de Brasília. Além de séria e íntegra, é a mais rigorosa do Brasil. Não existe a mínima possibilidade de nenhuma autoridade interferir junto à Polícia Federal. São mentiras infundadas. O presidente Bolsonaro não interfere na Polícia Federal e jamais interferiu na Polícia Federal ou em qualquer outra instituição de seu governo."