Em um mundo em que constantemente estamos questionando a produção em massa, vivemos um momento muito interessante de transformação do consumo. Quando falamos em economia colaborativa, a premissa é a divisão, não o acúmulo. Neste sentido, não são poucos os exemplos positivos que surgem, tais como aplicativos para troca de produtos em bom estado, plataformas que oferecem troca de serviços, bem como os populares serviços de streaming de músicas, filmes e séries.

Se em um passado muito recente precisávamos desembolsar uma boa grana para comprar CDs e DVDs de todas as nossas preferências, hoje já é possível economizar bastante e optar pela assinatura que dá acesso a um enorme acervo. Aquela roupa que foi comprada, mas nunca perdeu a etiqueta, também não precisa ficar encostada no armário e ganha mais tempo de vida útil.

Neste sentido, a tendência é que tenhamos reações positivas diante das novidades que surgem a cada dia no mercado, afinal, o consumidor é o maior beneficiado. No entanto, é preciso ter um olhar crítico para alguns serviços que aparecem neste contexto. Um novo molde de negócios que segue os princípios da economia colaborativa são aplicativos de carona.

É possível deslocar-se pela cidade por um custo abaixo do que seria cobrado em uma corrida de táxi ou mesmo dividir as despesas de uma viagem de carro. Do ponto de vista financeiro, sem dúvidas é uma vantagem para o bolso. Mas não se pode negar a polêmica presente especificamente para este segmento. Por um lado, existe a questão da segurança. Por mais que as empresas que surgem no mercado apresentem propostas que visam garantir a segurança dos usuários, não há regulamentação do Estado e isso acaba representando um risco.

Por lei, motoristas que prestam serviços de transporte para a população precisam passar por cursos e exames específicos, bem como pagar impostos. Ainda que a qualidade da prestação de serviço do transporte regulamentado seja questionável, o Estado tomou para si essa obrigação com a população.

Por um lado, podemos entender que esta posição do Estado quanto à prestação de serviços de transporte dificulta a melhoria do mercado por meio da livre concorrência. Por outro, no entanto, é preciso também entender que as empresas que estão surgindo com alternativas de transporte, como a carona colaborativa, precisam oferecer mais garantia de segurança aos usuários e isso só pode ser feito através da regulamentação.

Do lado do consumidor, o mais sensato é torcer por um cenário em que haja mais espaço para diálogo, visando justamente esta regulamentação. Afinal, não é possível pensar em benefícios diante da proibição sumária de novas alternativas de transporte no mercado. Bem como não podemos ficar à mercê da falta de garantias dos novos prestadores de serviço. O caminho do meio, pelo visto, é o Estado atuando mais como mediador do que como autoridade restritiva.