Toque de recolher foi ampliado e donos de conveniências dizem que são penalizados pelos que incentivam clientes nas ruas.

Donos de conveniências contam as horas para fim do toque de recolher

Com duas horas a mais de restrição na circulação de pessoas, donos de conveniências e bares contam os dias para o fim do prazo previsto no toque de recolher em Campo Grande, 5 de abril. Alguns, embora considerem ser a melhor solução para conter a propagação do novo coronavírus (Covid-19), dizem que não vão agüentar muito tempo antes de demitir funcionários ou fechar as portas em definitivo.

Desde a semana passada, a prefeitura de Campo Grande havia estipulado toque de recolher, das 22h às 5h, porém, ontem, o prefeito Marquinhos Trad (PSD) ampliou em duas horas a restrição, de quinta-feira a domingo. Isso quer dizer que, a partir de hoje, não será permitida a circulação de pessoas, injustificada, das 20h às 5h.

Donos de conveniências ainda são beneficiados por serem enquadrados como atividade essencial, comercializando alimentos, além das bebidas. Mesmo assim, reclamam que a restrição pode prejudicar ainda mais o movimento, já atingido pelas medidas.

Dono de duas conveniências/mercearia no Jardim Leblon e no Buriti, Claudinei Cardoso, 32 anos, diz que o movimento já havia caído em 40% e, agora, deve ser ainda maior por conta da mudança de restrição.

Ele mantém quatro empregados e diz que com a mudança de horário “não vai nem mais um mês” aberto, caso o toque de recolher extrapole o prazo inicialmente previsto. Ele reclama que está sendo atingido pelas conveniências que mantém mesas para os clientes, o que incentiva àqueles que teimam em ficar na rua. “Tem que fiscalizar esses, aqui ninguém fica aglomerado”, diz.

Quem também reclama dos que atendem clientes com mesa na calçada é Gilson Mariano, 33 anos, dono de conveniência/mercearia no Guanandi II. Ele também aponta queda de 40% nessa fase de maior rigor das restrições e considera os novos horários do toque de recolher uma “decisão precipitada”. Ele diz que consegue se manter por mais 20 dias. “Não vou ter como pagar aluguel, água, luz, essas coisas”.

Gilson diz que a fiscalização rigorosa deveria ser em cima dos que incentivam os clientes a ficarem no local, provocando aglomeração. “Aqui é comprou e tchau, não tem mesa, não tem cadeira, não tem banheiro para cliente não”.

Maria Aparecida, 60 anos, dona de conveniência no mesmo bairro, diz que ficará aliviada se restrição acabar até dia 5 de abril, prazo previsto, por enquanto, nos decretos municipais.

“Se for para livrar as pessoas da doença, sou a favor e vou acatar”.

Diz que o movimento caiu – “povo de uma sumida” – e ainda não pensou em plano d recuperação caso a medida se estenda. “Me mantenho positiva em relação ao decreto, é para salvar vidas”.

Ary dos Passos, 68 anos, é dono de “botecão” no Parati, com mesas para os clientes, que começaram a minguar desde semana passada. “Estou tocando para pagar minhas contas, o toque de recolher prejudica, mas é lei, eles mandam, a gente obedece”.