Filha de Italianos, Vicenzina, que acorda às 5 horas da manhã e vai para a lida na roça, já enfrentou a pandemia do coronavírus em plena colheita.

“Do céu cai chuva e não é todo dia”, diz mulher que comanda fazenda no interior de MS

Desde criança na pequena cidade de Pedrinhas Paulistas ela aprendeu, em bom italiano, idioma que fala fluentemente, que a vida é para ser vencida e com o suor do próprio trabalho. Filha dos imigrantes Luigi e Eliza, Vicenzina Palombo, de 52 anos, cultiva valores que foram plantados em sua memória na época em que os pais iam para a roça de algodão, com ela a tiracolo.

“Meu pai sempre me disse: Trabalhe honestamente para garantir o seu sustento e o da família e nunca deixe de ajudar o próximo”, conta Vicenzina que acorda todos os dias acorda às 5 da manhã para literalmente semear o pão de cada dia, já que a fazenda de propriedade da família, localizada a aproximadamente 80 quilômetros de Dourados, também cultiva trigo.

Além do trigo, que é usado na fabricação de uma receita tradicional de pão italiano que acompanha a família há gerações, a Fazenda Itália sobrevive das lavouras de soja, milho, aveia e feijão. “Aqui não tem vida de madame e nem ostentação. A fartura existe sim, mas nada escapa da ponta do lápis”, conta a filha de italianos que chegou em Mato Grosso do Sul, quando ainda era uma menina-moça.

Divorciada há 17 anos e com dois filhos, a devota de Nossa Senhora Aparecida se apega na crença em Deus para enfrentar os desafios do oficio herdados dos pais. “Além de coragem e força de vontade é preciso muita fé naquele que está acima de nós para conseguir os desafios da lavoura”, comenta.

Entretanto, Vicenzina na mesma medida em que dobra os joelhos para fazer suas preces, também mantém os pés firmes no chão e as mãos na terra. “Nunca recebi nada de graça. Tudo que consegui até agora foi com muita luta porque aprendi desde novinha que do céu cai chuva e não é todo dia”, conta a produtora rural que não gosta de ser chamada de fazendeira.

Segundo ela o termo não soa bem aos seus ouvidos. Ao invés disso, se sente mais à vontade ao ser chamada de produtora rural. “Não sou melhor que ninguém. Não me sinto bem quando alguém me chama de fazendeira. Fica aquele ar de prepotência e isso não combina comigo, com a vida simples, de caipira, que levo”, relata a produtora rural.

Vicenzina explica que em nenhum momento se sentiu inferior em relação ao universo profissional que vive, na maioria dominado pelos homens. No seu entendimento, a mulher tem um jeito diferente de ver o mundo e que muitas vezes acaba salvando uma lavoura inteira.

“O que acontece é que em geral, ela não é escutada como devia. Costumo dizer que a mulher sustenta a loucura dos homens”, ressalta a produtora, lembrado que o olhar feminino muitas vezes faz a diferença porque a mulher não pensa somente no agora.

“Me preocupo sim com o presente, mas também gosto de enxergar mais longe. Por exemplo, porque vou querer comprar uma Ranger, se a caminhonete que tenho, que é uma Touro, atende as minhas necessidades? ”, pondera Vicenzina, lembrando sempre que prefere não dar um passo maior que a perna.