Falta de animação pode ter várias razões, e comércio já sente reflexo

 Desânimo de campo-grandenses revela ‘sono eterno’ do clima de Copa do Mundo

Ruas decoradas, chão pintado de verde e amarelo, bares temáticos, supervenda de televisores nos varejistas da cidade. Tudo isso parece cena do passado distante, coisa restrita à memória, porque até o momento está bem difícil achar o “clima de Copa do Mundo” na Capital.

É claro que até o primeiro jogo do Brasil, no próximo dia 17, muita coisa ainda pode acontecer, inclusive algum “milagre” que desperte os torcedores adormecidos. Mas, o fato é que a apenas a uma semana da competição os campo-grandenses ainda não entraram no ritmo “normal” que antecede a disputa.

A aparente e inédita desmotivação pré-Copa tem gerado até uma espécie de mercado especulativo, no qual as pessoas opinam o porquê do espírito esportivo ainda não ter despertado nas pessoas. Economia em crise, corrupção nos governos, greve dos caminhoneiros e “amarelinhos” dos protestos são algumas das apostas de populares.

7×1 traumático

Nas ruas do centro, as pessoas desconhecem locais que estejam empenhados em decorar a rua aos moldes de antigamente. “Nossa, nunca mais vi isso. A gente assiste em casa, tem medo da insegurança, né?”, comenta a aposentada Lourdes Benites, de 61 anos, moradora do bairro Moreninhas. “Lá no meu bairro até tinha isso, mas depois do 7×1 acho que o pessoal brochou, né?”, opina.

Diferentemente de outros anos, a Prefeitura de Campo Grande afirmou que não deverá utilizar a Cidade do Natal para a exibição dos jogos. Segundo a assessoria de imprensa da Sectur (Secretaria Municipal de Cultura e Turismo), o horário dos jogos é o maior empecilho, porém, é possível que nas finais haja alguma articulação neste sentido.

Mas, na prática, o que se nota é que a população não está muito a fim de celebrar. “Pra ser sincera, eu nem tava lembrando da Copa”, revela a panfleteira Luzia Lima, de 43 anos. “A gente cansa, né? Torcemos pra eles, mas quando chega na hora eles perdem?! Fica aquela expectativa e depois a tristeza… Não tem condições”, protesta.

Já a manicure Luciana Alonso, de 42 anos, crê que as motivações são mais… políticas. “Acredito que o foco do brasileiro agora é outro. É muita corrupção, acabamos de sair de uma greve de caminhoneiros muito tensa. Isso mexe com a autoestima. Além disso a economia está bem ruim, está todo mundo endividado”, analisa.

E tem também quem goste de Copa do Mundo, mas que manifeste o “ranço” pela camisa da seleção canarinho após ela ter sido o uniforme oficial dos protestos que tomaram conta do país nos últimos anos. “A gente ta tentando encomendar umas camisas vermelhas, porque ser confundido com os coxinhas não dá, né?”, brinca a professora Luciana Gomes.

Reflexos na economia

A desmotivação pode ser claramente vista na venda de televisores. Antigamente, Copa do Mundo era a grande expectativa dos lojistas de alavancarem as vendas do produto, em clima de “queima de estoque”. Porém, o cenário parece desanimador. Literalmente: no maior varejista de eletrodomésticos do Centro de Campo Grande, apenas alguns balões verde-amarelo ao lado dos televisores evitam que a loja seja sublimada pelo cinza da

estação.

“Talvez o pessoal esteja esperando uma promoção, mas só que a promoção já está rolando”, brinca o vendedor Kelvin Oliveira, de 38 anos, com otimismo. “Mas, falando a verdade, falei com meus colegas e este ano não está bom e comparado às outras Copas do Mundo. Em 2014, uma hora dessas o que mais tinha era gente saindo com TV tela plana debaixo do braço”, completa.

O ritmo de vendas tímidas também se confirma nos atacadistas do centro especializados em variedades domésticas e demais utensílios. Na maior loja do segmento, na Avenida Afonso Pena, as vendas até estão boas, mas bem longe do que costumava ser.

“Eu pensava que os artigos juninos iam vender mais, só que a Copa é que ta puxando mais a venda. A gente tem suspeitado que seja para decorar as lojas, você passa aqui na 14 de Julho e vê que não tem muito verde-amarelo”, opina o gerente Pedro Magalhães, enquanto mostrava as gôndolas ainda lotadas de bandeiras, camisas e vulvuzelas.

No interior da loja, a contadora Elaine Tago, de 42 anos, aproveitou a ida ao comércio e encheu o carrinho com alguns itens decorativos em verde-amarelo. “O país está meio desanimado. Eu só tô levando essas coisinhas porque tô aqui e porque ta baratinho. E mesmo assim é pouca coisa”, opina.

A poucos metros, a aposentada Marilene Farias, de 55 anos, ensaia pegar uma bandeira com haste, mas desiste. “Esse ano tá devagar… E no que depender de mim vai continuar. Lá em casa a gente gosta de Copa, sempre é animado e comprei até uma TV. Mas não vai ser a mesma coisa, não. Não sei explicar, mas tem algo diferente”, conclui. Alguma aposta do que pode ser?