Procedimento foi feito apenas algumas centenas de vezes nos últimos 65 anos

Dente no olho: cirurgia rara e inusitada faz pessoas cegas recuperarem a visão
Procedimento foi feito apenas algumas centenas de vezes nos últimos 65 anos / Foto: Aparência do olho após procedimento cirúrgico. (Foto: Reprodução/Greg Moloney/Providence Health Care)

No último mês, três canadenses cegos ganharam destaque por recuperarem a visão após uma rara cirurgia, com a implantação de um dente no olho. O procedimento inusitado, executado pelo médico australiano Greg Moloney, chama-se osteo-odonto-queratoprótese e foi inventado em 1960.

No entanto, a técnica foi aperfeiçoada nos anos 2000 e só teve protocolo padrão publicado em 2005, na revista Cornea. A cirurgia é recomendada apenas aos pacientes que sofreram dano na parte frontal (externa) do olho, na córnea, mas possuem o fundo saudável. Assim, ela pode ser indicada em casos de queimaduras químicas ou em cegueiras causadas por reações autoimunes.

Por que utilizar um dente?
O dente funciona como uma espécie de apoio para segurar a nova lente utilizada pelo paciente. O procedimento é uma boa alternativa, sobretudo, para pessoas que não tiveram sucesso no transplante de córnea.

Por ser um tecido do próprio paciente, o corpo não rejeita o dente. Desse modo, ele atua como uma estrutura firme para uma nova lente artificial, como uma ponte entre o corpo e a lente plástica que foca a luz.

Como a cirurgia funciona?
O primeiro passo do procedimento é remover um dente canino superior da boca do paciente. O cirurgião-dentista Bem Kang, que realizou a extração de um dos canadenses, afirma que o dente precisar ser saudável e grande, para suportar a lente.

Após a remoção, o canino é serrado e polido, até se tornar plano e retangular. No meio, é feito um buraco, como uma verdadeira janela, para que a lente seja instalada no local futuramente.

Então, o dente é limpo e implantado em uma “bolsa de gordura” na própria bochecha do paciente, onde deve ficar por cerca de três meses. Isso ocorre para que o corpo produza um tecido ao redor do dente e assim seja possível “costurá-lo” dentro do olho.

Por fim, o canino é retirado da bochecha, recebe a lente e é costurado ao olho. Esta última etapa da cirurgia, em uma das pacientes, durou aproximadamente cinco horas.

Dente já com a lente, pronto para ser costurado no olho. (Foto: Greg Moloney/Providence Health Care)
Resultados positivos
Apesar de não ser uma técnica adotada frequentemente pelos médicos, com estimativa de apenas algumas centenas nos últimos 65 anos, os resultados são positivos.

Conforme estudos com ex-pacientes de Moloney, 90% das pessoas que fizeram a cirurgia do “dente no olho” possuem lentes funcionais e firmes, após 30 anos do procedimento.

Inclusive, um dos pacientes, Brent Chapman, já havia passado por transplantes de córnea e só havia recuperado a visão por tempo limitado. No entanto, após a cirurgia com o dente, Chapman voltou a enxergar de um dos olhos (já que é irreversivelmente cego do outro). Atualmente, ele consegue ler e caminhar sem necessidade de bengala, além de ter voltado a jogar basquete.