No Dia do Estagiário, o Jornal Midiamax questiona: o que faz um estagiário se destacar no mercado de trabalho e ser efetivado?

De quem é a culpa? Estagiários de MS comentam desafios e conquistas de quem está começando
No Dia do Estagiário, o Jornal Midiamax questiona: o que faz um estagiário se destacar no mercado de trabalho e ser efetivado? / Foto: Vagas de estágio (Ilustrativa, Henrique Arakaki, Jornal Midiamax)

O ditado popular “a culpa é sempre dos estagiários” pode até render piadas nos corredores das empresas, mas quem já passou sabe que é nesta fase que ocorrem erros e acertos comuns das primeiras experiências profissionais. Qual o problema, portanto?

Não é por menos. Os estágios no Brasil são regulamentados pela Lei 11.788/08, que determina responsabilidades e direitos da categoria. Entre eles, supervisão e orientação, carga horária e férias, dentre outros.

Piadas à parte, é nesta segunda-feira (18) que o Dia do Estagiário é celebrado. O Jornal Midiamax aborda a experiência de quem já atua no mercado: o que leva um estagiário a se destacar e conquistar a efetivação? E quais direitos a legislação assegura a esses jovens profissionais?

Maryana Almeida, estagiária na Bracell, estudante de Design e atuante na MS Florestal, é um exemplo de como o estágio pode transformar a visão de futuro. Logo, apesar de se considerar tímida, o trabalho revelou habilidades que ela nunca imaginou ter.

Rotina do estagiário é puxada
“Descobri que tenho perfil de liderança e gosto de gerenciar projetos. Isso nunca apareceu claramente na faculdade. O estágio me ajudou a enxergar possibilidades que vão muito além do que imaginava para minha carreira”, relata.

Assim, quem já precisou se desdobrar entre o trabalho e os estudos entende o cansaço e até falta de ânimo para conquistar cada dia. Maryana conta que tem uma rotina intensa, saindo às 7h de casa e retornando 0h.

“Carrego minha marmita, meus materiais e, às vezes, o cansaço. Mas carrego também a certeza de que estou construindo algo. Isso ameniza o perrengue”.

Maryana Almeida vai comemorar o Dia do Estagiário na Bracell (Arquivo pessoal)
Felipe Carrara, supervisor do CIEE-MS (Centro de Integração Empresa-Escola de Mato Grosso do Sul), atua diretamente na mediação entre estudantes e empresas. Para Felipe, representante da entidade, o estágio é uma ponte entre o aprendizado e o mercado, e pode ser o início de trajetórias surpreendentes.

“É comum vermos pessoas hoje em cargos de chefia que começaram como estagiários. Logo, o estágio é uma oportunidade de ouro para se destacar, mostrar interesse, aprender e, muitas vezes, ser efetivado”.

Mas o que leva algumas empresas a contratar certos estagiários e a recusar outros? Segundo especialistas em RH, algumas posturas contam — e muito, como:

Proatividade: ir além do solicitado, sugerindo soluções e demonstrando interesse.
Boa comunicação: saber ouvir, se expressar e dar feedbacks.
Aprendizado constante: mostrar curiosidade e disposição para aprender.
Falta de pontualidade e comprometimento: são erros que pegam muito mal, mesmo em estágios.
O que diz a lei?
A Lei nº 11.788/08 regulamenta o estágio no Brasil. Ela define uma série de direitos e estabelece deveres tanto para os estudantes quanto para as empresas:

O estudante precisa ter 16 anos ou mais e estar matriculado em uma instituição de ensino.
A carga horária deve ser de, no máximo, 30 horas semanais.
O estagiário tem direito a bolsa-auxílio, auxílio-transporte e, após 12 meses, a recesso remunerado proporcional.
A relação de estágio não gera vínculo empregatício, mas deve ser formalizada com termo de compromisso e supervisionada por um tutor.
Segundo o CIEE, Administração, Direito, Pedagogia e Educação Física lideram o número de vagas de estágio no país atualmente. Já os valores das bolsas variam conforme o nível de ensino e a empresa, sendo entre R$ 600 e R$ 800 para estudantes do ensino médio que estagiam 30h semanais e entre R$ 900 e R$ 3 mil para o Ensino Superior.

Na CIEE, atualmente, o maior número de vagas disponíveis são para os cursos de Administração, Direito, Pedagogia e Educação Física.

Estagiário hoje, líder no futuro
Contudo, é verdade que o estágio exige jogo de cintura, resistência ao cansaço e capacidade de adaptação. Mas também é um tempo fértil para descobertas e crescimento.

“Organizei meu primeiro evento do zero, com apoio do meu tutor. Ver tudo funcionando e as pessoas aproveitando aquilo que eu idealizei foi emocionante. Me senti parte de algo maior e vi ali o início da minha carreira de verdade”, diz Maryana.

Gustavo Aleixes, estudante do 4º semestre de Agronomia na Uniderp, comenta que estuda pela manhã e estagia à tarde. Para ele, o estágio será um aprendizado para ingressar no mercado agro.

“No meu estágio, tentam me ensinar com paciência, então, quando eu erro, me ajudam a corrigir o erro sem problemas. O primeiro dia foi interessante. Não conhecia um laboratório de sementes e não sabia como funcionava. Os outros colaboradores foram receptivos e me ensinaram sobre o trabalho”.

‘Estagiários seniores’
Fabiana Biazetto, administradora de empresas, professora do curso de Administração da Uniderp, consultora empresarial e especialista em Gestão de Pessoas e a Educação Corporativa, pontua que “estagiários seniores” ganham espaço no mercado, consolidando carreiras em 2025.

“O conceito tradicional de estagiário como alguém muito jovem e sem experiência está mudando. Hoje, vemos o chamado ‘estagiário sênior’ — profissional que já tem alguma experiência prévia, às vezes, até mesmo carreira em outra área, e que busca o estágio para se reinventar, migrar de área ou adquirir novos conhecimentos. Essa diversidade de perfis enriquece as equipes e traz diferentes perspectivas para as empresas. Além disso, as organizações estão mais conscientes da importância da inclusão, o que contribui para que estagiários de diferentes idades, formações e trajetórias tenham espaço e sejam valorizados”.

Afinal, por que ser um estagiário?
“O estágio é uma etapa fundamental na formação profissional. Ele serve para que o estudante possa aplicar na prática o que aprende na teoria, desenvolvendo competências técnicas, comportamentais e sociais dentro do ambiente real de trabalho. Além disso, o estágio ajuda o jovem a entender a cultura organizacional, a desenvolver networking e a ter uma visão mais clara sobre sua carreira. Para empresas, é uma forma estratégica de formar futuros talentos alinhados com seus valores e processos, além de ser uma oportunidade de identificar potenciais colaboradores para o quadro efetivo”, conclui Biazetto.