Escassez de energia pressiona data centers e acelera mudanças na computação em nuvem.

Da spa de dados a servidores no espaço: crise de energia redesenha a computação em nuvem
O que é o Data Center Pecém? Megaprojeto e que vai atrair gigantes como o TikTok para o Brasil. / Foto: Reprodução.

A rápida expansão da inteligência artificial está ampliando o consumo de energia em data centers e pressionando cadeias globais de fornecimento elétrico.

Essas estruturas sustentam praticamente todos os serviços digitais, mas exigem volumes crescentes de eletricidade e água, além de gerar impactos urbanos e ambientais.

À medida que cargas de trabalho de IA escalam, cresce o risco de gargalos estruturais. Para especialistas, o modelo atual começa a mostrar sinais de esgotamento.

Energia e o ponto de ruptura da arquitetura atual
Segundo Simone Larsson, chefe de IA corporativa da Lenovo, o setor se aproxima de um ponto em que a arquitetura tradicional dos data centers deixa de ser adequada.

A avaliação é reforçada por estudo da empresa que aponta dificuldades crescentes para atender metas de sustentabilidade e conformidade regulatória.

Apenas 46% dos decisores de TI afirmam que seus data centers atuais estão alinhados a objetivos ambientais, mesmo com a energia no centro das decisões de investimento.

Spas, vilas e novos usos da energia
Para enfrentar o desafio, a Lenovo trabalhou com os escritórios Mamou-Mani e AKT II em conceitos alternativos de data centers.

Entre eles estão instalações subterrâneas em túneis desativados, estruturas suspensas que maximizam uso solar e modelos urbanos modulares.

Em vilas de dados, o calor excedente dos servidores pode ser convertido em energia térmica para aquecer casas, escolas ou equipamentos públicos.

O mesmo princípio aparece nos chamados “data center spas”, que reaproveitam calor em ambientes de bem-estar e devolvem parte dessa energia ao sistema de resfriamento.

Limites práticos e barreiras regulatórias
Os próprios desenvolvedores reconhecem que esses conceitos dificilmente sairão do papel antes de 2055. Custos elevados, complexidade de engenharia e restrições legais seguem como entraves relevantes.

A adoção também varia por região. Os Estados Unidos tendem a concentrar grandes campi de alta densidade, enquanto a Europa enfrenta redes elétricas mais restritas e regras ambientais mais rígidas.

Energia extrema e servidores no espaço
Outra frente em estudo é levar a computação para fora da Terra. Projetos de Google, Alibaba e Nvidia investigam data centers orbitais movidos diretamente pela energia solar.

A startup Starcloud, apoiada pela Nvidia, já enviou ao espaço um chip com capacidade inédita de processamento.

Segundo o European Space Policy Institute, cerca de € 70 milhões foram investidos em data centers espaciais desde 2020.

Ainda assim, custos de lançamento, manutenção e proteção contra radiação tornam o modelo inviável no curto prazo.

Energia, cidade e aceitação social
Além da eficiência, há um esforço para tornar os data centers mais integrados às cidades. Arquitetos defendem que as estruturas deixem de ser vistas como blocos fechados e passem a dialogar com o espaço urbano, reduzindo rejeição social.

O uso de biomimética, por exemplo, ajuda a distribuir calor de forma mais eficiente, reduzindo consumo de energia e impacto ambiental.

Regras e investimentos definem o futuro
Especialistas afirmam que mudanças regulatórias serão decisivas para viabilizar novas soluções.
Sem atualização das redes elétricas e rápida expansão de fontes renováveis, o avanço da IA tende a intensificar a disputa por energia.

Para Larsson, adaptar estruturas antigas não resolve o problema. O setor precisará redesenhar modelos do zero para equilibrar crescimento tecnológico, viabilidade econômica e limites energéticos.