Senadores da CPI querem saber sobre expansão territorial das facções criminosas.

CPI do Crime ouve diretores da PF sobre operação contra PCC em Mato Grosso do Sul
Instalação da CPI do Crime Organizado. / Foto: Andressa Anholete/Agência Senado

A CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Crime Organizado quer informações sobre a Operação Carbono Oculto, da PF (Polícia Federal). A investigação contou com ações em Mato Grosso do Sul, as quais apontaram sete empresas como alvos. Assim, diretores da PF participam de oitiva na manhã da terça-feira (18), para prestar informações sobre o combate ao crime organizado e às facções.

Estão entre os convidados da CPI: o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Augusto Passos Rodrigues; e o diretor de Inteligência Policial da PF, Leandro Almada da Costa.

O relator da CPI, senador Alessandro Vieira (MDB-SE), pediu oitiva com os policiais para entender o início das investigações sobre a expansão territorial, econômica e operacional das facções criminosas. Então, justificou que a presença da cúpula da PF é fundamental para que a CPI entenda o cenário atual sobre as organizações criminosas.

Ademais, os senadores querem compreender o grau de infiltração destes grupos nos estados, bem como o impacto das estruturas de lavagem de dinheiro que alimentam milícias, facções e redes de atuação transnacional.

Especificamente da Operação Carbono Oculto, os senadores buscam entender a cooperação de forças. Isso porque a PF atuou em conjunto com a Receita Federal e o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) de São Paulo.

A operação mirou grupo criminoso que usava fintechs e postos de gasolina para lavagem de dinheiro da maior facção criminosa do estado de São Paulo: o PCC (Primeiro Comando da Capital).

Além disso, os parlamentares da CPI devem indagar os diretores sobre a operação nos complexos do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro. A ação policial resultou na morte de 121 pessoas.

Por fim, vale pontuar que os depoimentos dos diretores também entram como subsídio para o acompanhamento do Projeto de Lei das Facções Criminosas. A matéria é do Executivo e chegou ao Congresso para endurecer o combate às organizações criminosas. Agora, tramita na Câmara dos Deputados, com texto que cria mecanismos de rastreamento financeiro e prevê regras mais rígidas para líderes e financiadores.

A CPI recebeu requerimento para convocação de Roberto Augusto Leme da Silva, conhecido como ‘Beto Louco’. Apontado como um dos líderes do PCC, o investigado teria operado esquema bilionário da facção em Mato Grosso do Sul.

A CPI foi instalada no Senado em 4 de novembro, com eixos de investigação centralizados no crime organizado. Para isso, os parlamentares devem investigar o tráfico, a milícia, o uso de fintechs, bancas de advocacia, criptomoedas para a lavagem de dinheiro e a necessidade de integração entre os órgãos de segurança pública e as Forças Armadas.

Assim, o senador Marcos do Val (Podemos) apresentou o Requerimento nº 17/2025. O parlamentar destaca que Beto seria um dos líderes de um esquema bilionário de lavagem de dinheiro do PCC no setor de combustíveis.

Foi nesse esquema que Beto teria atuado como operador, ao lado de Armando Hussein Ali Mourad. Então, no requerimento, o senador lembra que Beto também aparece como principal responsável por uma rede de fraudes fiscais e contábeis que movimentou mais de R$ 52 bilhões.

“Segundo investigação, a organização criminosa, que teria ramificações em toda a cadeia produtiva de combustíveis — de usinas a postos—, usa centenas de empresas em nome de laranjas, fundos de investimento e familiares para blindar o patrimônio e ocultar a origem ilícita dos recursos”, disse o requerimento apresentado à CPI.

Foi em MS que a expansão da facção começou ainda na década de 1990, quando São Paulo tentava isolar lideranças. Assim, considerados ‘problemas’, dois líderes da facção que se tornaria uma das maiores da atualidade foram parar em outros estados.

César Augusto, conhecido como ‘Cezinha’, veio para Mato Grosso do Sul. E José Márcio Felício, conhecido como ‘Geleião’, foi para o Paraná.

A liderança que parou em MS é classificada como ‘carismática e de boa comunicação’ pelo promotor de Justiça do estado de São Paulo, Márcio Sérgio. De lá para cá, a facção se especializou e modernizou, criando um organograma, com subdivisões e tarefas específicas.

Em Mato Grosso do Sul, a facção é dominante. Além disso, detém a rota da Bolívia, de onde sai a cocaína para o resto do país e para a Europa. O promotor, autor do livro “Laços de Sangue – A História Secreta do PCC”, explica que a rota da Bolívia é uma das mais importantes para a facção.