Familiares querem que enterro aconteça no cemitério de Ricardo de Albuquerque, também na Zona Norte. Dez militares foram presos administrativamente; Justiça Militar investiga o caso.

Corpo é liberado e família aguarda vaga em cemitério para enterro de músico fuzilado pelo Exército
Família quer enterrar de Evaldo no cemitério de Ricardo de Albuquerque e espera por vaga / Foto: Reprodução/Facebook

A família de Evaldo Rosa, de 51 anos, morto após ter tido o carro fuzilado pelo Exército no domingo (7) em Guadalupe, na Zona Norte do Rio, conseguiu nesta terça-feira (9) a liberação do corpo do músico. Agora, aguarda uma vaga para o enterro no cemitério de Ricardo de Albuquerque, também na Zona Norte.

Ainda não há data definida para o enterro. A família espera uma vaga em um sistema da prefeitura que regula os enterros de acordo com as covas e caixas disponíveis nos cemitérios dacidade.

Na segunda-feira, 10 militares do Exército foram presos. O carro onde estava o artista e a família foi fuzilado com mais de 80 tiros. A Polícia Civil diz que "tudo indica" que o veículo foi confundido com o de criminosos.

Os militares foram ouvidos na Delegacia de Polícia Judiciária Militar. O caso é investigado pelo Exército devido a uma lei sancionada em 2017 pelo então presidente Michel Temer (MDB).
Inicialmente, o CML informou que os agentes tinham respondido a "injusta agressão" de criminosos. Na manhã desta segunda, o CML disse que identificou "inconsistências" entre os fatos reportados pelos militares e informou que os agentes acabaram afastados.

Em um boletim de ocorrência registrado na 30ª DP (Marechal Hermes), um motorista conta que foi assaltado por cinco homens em um sedã branco por volta das 14h (meia hora antes do incidente) na própria Estrada do Camboatá, perto do Piscinão de Deodoro.

'Ficaram de deboche'
 
A viúva de Evaldo, Luciana Nogueira, estava no carro no momento do crime. Após reconhecer o corpo do marido no Instituto Médico Legal, nesta segunda (8), ela contou o que presenciou.

“O meu filho estava no carro, viu tudo. Ele quer a foto do pai. Eu falei que o pai está no hospital. Por que o quartel fez isso? Os vizinhos começaram a socorrer, mas eles continuaram atirando. E falei: ‘moço, socorre o meu esposo’. Eles não fizeram nada e ficaram de deboche“, disse ela.
 
Luciana afirmou que estavam indo para um chá de bebê e que pegaram aquele caminho próximo ao quartel porque se sentiam seguros. "Eu falei: ali é calmo, ali é nossa área. E eu vi o quartel. Tava protegida, da mesma forma que, quando eu vejo um policial, eu me sinto protegida", relatou.

Sobre o marido, a mulher disse que, além de ser músico, ele trabalhava como segurança em uma creche.

"Eu perdi meu melhor amigo. Eu estava com ele há 27 anos. Adorava música, um homem caseiro, trabalhador. Cuidava de mim como ninguém. Meu deus, meu deus", repetia ela.