Só para elas é uma academia localizada no bairro Buriti de Campo Grande e muitas mulheres vão ao local para escapar do assédio

Contra homem sem noção, mulherada prefere academia onde eles não entram
As alunas praticam aula de ritmos juntas e perdem a vergonha de se soltar / Foto: Paulo Francis

Cansadas do assédio, mulheres que moram no bairro Buriti preferem ir à academia “Só para elas”, onde homem não entra. A professora de educação física, Fabiana Butiquevices, conta que as alunas já passaram por constrangimentos e algumas precisaram escolher roupas mais largas para evitar as cantadas. Por isso, surgiu a ideia de um espaço 100% feminino. “Elas procuram esta academia por conta do assédio em outras. Tem muitas posições complicadas, como o de abrir e fechar as pernas, agachamento. Sentem-se mais confortáveis aqui porque podem usar roupa mais curta ou apertada, um top, calças transparentes e isso nesse ambiente não tem problema”, relata.

Ela relata que nem mesmo as instrutoras escapam de alguns e tem gente que abandona o treino por conta das atitudes de homens. “É complicado até para a gente que é profissional e vai atender um aluno, ele pode confundir as coisas. Escutamos muitas piadinhas, conversas fiadas. Tem uns que olham, outros que falam diretamente”, diz.

A academia “Só para Elas - Espaço Feminino” funciona há nove meses no bairro Buriti e hoje tem cerca de 70 alunas. O local se tornou refúgio para a mulherada escapar dos marmanjos, cuidar do corpo e fazer amizades. No último treino da semana, fazem comes e bebes, e ainda conversam sobre a rotina dos exercícios.
 
Como a ideia é atender o público feminino, os treinos são pensados para elas, e também pode atender transexuais mulheres. “Contamos com aparelhos para o corpo feminino e exercícios que trabalham glúteo e bumbum. É difícil ter um espaço direcionado, pois boa parte dos ginásios priorizam a quantidade e não a qualidade”, diz Fabiana.

O nome do espaço é claro “Só para elas”, mas tem homens que tentam se matricular. “A gente explica que não é possível. Não sei se não se tocaram com o nome”, comenta. O lugar já teve um instrutor gay, mas por conta da faculdade ele precisou sair e hoje só as mulheres transitam por ali.

A proprietária do espaço, Meire Bento é estudante de Educação Física e afirma que o comportamento dos homens que mais irritam as mulheres, é a “secada” na cara dura. “O fato delas estarem fazendo um agachamento e eles ficarem cuidando incomoda. De precisar usar algumas roupas para se esconder de certos olhares e já dentro de uma academia para o público feminino não tem isso. Elas podem chegar como quiser, não importa se tem barriga, estrias, celulites. A gente se ajuda, e todas somos lindas”, destaca.

Ao abrir um espaço para atender as mulheres, a empresária acabou atraindo famílias. “Vem a mãe, filha, irmã", diz a proprietária.

O espaço conta com aulas de musculação, funcional, ritmos, jump, pilates com bola, aula aeróbica em grupo, ginástica localizada e step. A academia tem portas de vidro, mas tem adesivos e é um ambinte mais escuro, reservado. A porta é trancada, para as alunas se soltarem durante as aulas. 

Descontração - Além de ser um refúgio para fugir dos homens, o local também é de descontração e de fazer novas amizades. “A academia é para mulheres que precisam ser atendidas, ouvidas. Temos nutricionista, terapeuta. Fiz um bolo de chocolate fit com amendoim, servi e elas comeram, bateram papo pós treino, outras voltaram a treinar. Isso não existe em academias convencionais, temos alunas de 23 a 86 anos”, disse.

A depiladora Mayara Sara, 30 anos, relata que nunca sofreu assédio, mas prefere treinar no local porque não precisa se preocupar com os comentários. “Nos outros locais, percebi muitos olhares e os comentários de ‘gostosa’ para as minhas colegas e isso incomoda. Aqui consigo vir com uma roupa que escolher, mais apertada e não passo por isso”, fala.

Laureane Rodrigues malha há quatro meses e diz que tem homem que mexe com ela, enquanto está indo para a malhação. “Motociclista que buzina quando estou vindo. A gente sofre no caminho até aqui por conta da roupa mais justa que vestimos. Eles olham, mexem, mas quando chego na academia é meu momento de alegria. É uma incentivando a outra, é um espaço de empoderamento, de fazer amigas. É como se fosse terapia coisa que em outro local não tinha”.

Priscila de Castro é estudante de educaçãofísica, instrui exercícios e relata que já precisou evitar alguns alunos por conta das atitudes. “Macho sem noção é o que mais tem, não apenas nas academias. O que mais irrita são as piadinhas que inventam no momento. Isso é uma falta de respeito”, afirma.

Para ela, uma academia voltada apenas para o público feminino é um espaço onde a mulherada se une por uma causa. “Como uma entende a outra, a gente vem com um sorriso no rosto, trocamos experiências, o psicológico muda. É outro ambiente, bem melhor”, disse.