Além da presença familiar no ambiente escolar, uma série de medidas podem ser adotadas para evitar atos extremos.

Contenção de violência nas escolas passa pelas famílias
Ambiente escolar precisa de colaboração da família para ser saudável. / Foto: Marcelo Victor/Arquivo

O ataque na Escola Estadual Thomazia Montoro, em São Paulo (SP), na manhã de ontem, deixou uma professora morta e quatro feridos.

Em Campo Grande, na quinta-feira, um estudante usou um simulacro de arma para ameaçar de morte o diretor da Escola Estadual Teotônio Vilela. Esses dois incidentes alertam para os casos de violência em ambiente escolar.

O presidente da Federação dos Trabalhadores em Educação de Mato Grosso do Sul (Fetems), Jaime Teixeira, comenta que há uma série de pontos que devem ser mudados para se evitar a violência nas escolas, e um dos principais é a relação com a família. 

Para Teixeira, a escola por si só não gera violência, a violência é um reflexo da sociedade na comunidade escolar.

Para a psicóloga Claudia Pinho, quando as crianças testemunham violências, principalmente no ambiente familiar, isso pode causar um sentimento de impotência em que a agressividade compensa essa sensação. 

“Essas crianças, quando são expostas à violência, podem ser mais explosivas e, consequentemente, demonstrar a raiva mais rapidamente. É um turbilhão de emoção que acaba explodindo”, explica a psicóloga. 

Além disso, a exposição frequente a atos violentos pode resultar em falta de sensibilidade das crianças.

“Independentemente de estar ferindo ou não, elas não têm a empatia”, comenta Claudia. 

O presidente da Fetems afirma que ações como a inclusão de psicólogos e assistentes sociais nas escolas, a reformulação do currículo acadêmico, a efetivação dos professores, as ações de combate ao bullying e as salas com baixa ocupação são medidas importantes para combater a violência no ambiente escolar. 

Jaime Teixeira alerta que essas ações ajudam a melhorar o vínculo do estudante, não só com o professor, mas com toda a comunidade, e fazem com que os alunos se interessem e gostem de estar no ambiente escolar. 

A criação de grêmios estudantis também é uma das diretrizes que podem ser adotadas porque faz com que os estudantes, desde as séries finais do Ensino Fundamental, incluam-se como parte da resolução dos problemas da escola. 

PROFESSORES 
A violência escolar não ocorre só entre os alunos. Profissionais da educação também são alvos de ameaças e coerções. O presidente da Fetems diz que, nos últimos anos, casos de patrulhamento foram relatados. 

“Militantes da extrema direita gravavam professores nas salas de aula e colocavam nas redes sociais, e isso deu muito transtorno. Esperamos avançar nesse sentido, de menos polarização nesses próximos anos”, comentou Teixeira. 

A Fetems acompanha os casos de violência contra profissionais da educação de acordo com a intensidade da ação.

A entidade cobra posicionamentos das secretarias de Educação estadual e municipais, pede a participação do Conselho Tutelar em algumas situações, orienta o profissional a fazer o boletim de ocorrência e disponibiliza um advogado para acompanhar o caso, quando há necessidade. 

No entanto, Jaime Teixeira relata que muitos professores não conseguem prosseguir nas salas de aula após sofrerem violência. Nesses casos, há uma readaptação e o profissional passa a atuar em outras funções, como, por exemplo, coordenador pedagógico. 

AUMENTO DA VIOLÊNCIA
Dados da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) de maio de 2022 apontavam um aumento de 127% nos casos de lesão corporal dolosa (quando há intenção de machucar) nas escolas estaduais de Mato Grosso do Sul, em relação a 2021. 

Segundo a Sejusp, 50 casos de lesão corporal foram notificados em escolas estaduais até 29 de maio do ano passado, enquanto entre janeiro e dezembro de 2021 foram registradas 28 ocorrências. 
O Correio do Estado pediu dados atualizados à Sejusp, mas, até o fechamento desta edição, não houve resposta. 

CASOS 
Em maio do ano passado, alunos da Escola Estadual Professora Ada Teixeira dos Santos receberam uma ameaça anônima de ataque durante o intervalo. Um estudante, que não quis se identificar, comentou que o anúncio do massacre foi feito por uma conta anônima no Instagram. 

Na semana passada, um aluno de 15 anos levou uma arma de brinquedo para a escola e usou-a para ameaçar o diretor e outros alunos. Segundo relatos, o diretor da unidade foi separar uma briga e, enquanto os estudantes estavam a caminho da direção, alunos informaram sobre o simulacro de arma.

Nas redes sociais, um vídeo do momento em que o profissional imobilizou e desarmou o estudante viralizou.
Em ambos os casos, a Polícia Militar foi acionada, assim como a família dos estudantes. 

AÇÕES 
A Secretaria Municipal de Educação da Capital (Semed) informou que tem um Setor de Acompanhamento de Conflitos Relacionados à Evasão e à Violência na Escola (Secoe) que realiza ações periódicas, como palestras preventivas e formação de profissionais.

Há também parcerias com a Guarda Municipal e com a Sejusp para orientações e monitoramento das escolas. 

A Secretaria de Estado de Educação (SED) não respondeu sobre o combate à violência escolar.