Índia e Japão avançam na adoção de etanol em gasolina.

 Competitividade do milho dos EUA pressiona exportações brasileiras
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A competitividade do milho norte-americano, impulsionada por uma sequência de boas safras e pela desvalorização do dólar, tem impactado diretamente a pauta exportadora de grandes produtores como o Brasil. As informações são de Raphael Bulascoschi, analista de Inteligência de Mercado da StoneX, empresa global de serviços financeiros.“Apesar de ter alcançado uma produção recorde de 140 milhões de toneladas em 2025, o produtor brasileiro demonstra menor interesse em acessar o mercado internacional diante dos preços mais baixos e da valorização do real”, disse.

Contudo, o ritmo mais moderado das exportações brasileiras já não representa um entrave significativo como em anos anteriores. O crescimento acelerado do setor de etanol de milho tem ampliado o consumo doméstico, reduzindo a dependência externa. Segundo projeções da StoneX, trazidas no Relatório Trimestral de Perspectivas para Commodities, o Brasil deverá consumir 22,3 milhões de toneladas de milho para produção de etanol em 2025, com expectativa de atingir 28,3 milhões de toneladas em 2026. A capacidade instalada pode chegar a 53 milhões de toneladas por ano até 2028, impulsionada pela expansão de usinas e novos projetos em implantação.

“Esse avanço é sustentado por medidas como o aumento da mistura de etanol anidro na gasolina para 30%, com perspectiva de atingir 35% nos próximos anos. A reforma tributária em curso também pode favorecer a competitividade do etanol hidratado em mais regiões do país nos próximos cinco anos. O milho, por sua ampla oferta e estabilidade ao longo do ano, se consolida como matéria-prima estratégica para esse movimento”, explicou Bulascoschi.

Apesar das supersafras em países como Estados Unidos, Brasil e China, os estoques finais globais de milho para a safra 2025/26 devem ser os mais baixos da última década. O mercado acompanha com atenção a capacidade de oferta para atender à crescente demanda global.

No Brasil, a expectativa para o ciclo 2025/26 é positiva. O plantio da soja em janela ideal favorece o desenvolvimento do milho safrinha em 2026, e os preços domésticos elevados devem estimular o aumento da área plantada. “Ainda assim, por ser uma cultura mais exposta à estação seca, o milho safrinha pode trazer volatilidade ao mercado”, ressaltou o analista.

O crescimento do setor de etanol não se limita ao Brasil. Na Índia, a mistura já alcançou 20% na safra 2024/25, com os grãos – especialmente milho e arroz – representando mais da metade da matéria-prima utilizada. Países como Vietnã e Japão também avançam na adoção de misturas de 10% de etanol na gasolina, reforçando a tendência global.

Nos Estados Unidos, embora o setor de etanol esteja consolidado, o dinamismo da demanda por milho se concentra no mercado exportador e na alimentação animal. O USDA projeta um consumo de 154,9 milhões de toneladas para ração em 2025/26, embora fatores como a desaceleração dos confinamentos na fronteira com o México possam impactar esse número.