Em Campo Grande, alunos ficaram sem capítulo de aula de Espanhol porque havia foto de casal gay.

Colégio Militar pula página com foto de gays para não falar de homossexualidade
Colégio Militar fica na Coophatrabalho e é conhecido por regras rígidas. / Foto: Campo Grande News

Assim como eles excluem a ditadura das conversas em sala de aula, o Colégio Militar de Campo Grande vê como perda de tempo falar de temas que envolvam gênero e sexualidade. A escolha vira e mexe gera polêmicas e o motivo mais recente é o livro de Espanhol, fornecido pelo Ministério da Educação. A direção da escola chegou a anunciar aos alunos que iria recolher o material, mas diante da repercussão negativa voltou atrás e decidiu mantê-lo, mas apenas neste ano.

Alunos do Ensino Médio relataram ao Lado B que há cerca de 10 dias professores entraram em sala de aula dizendo que o livro de Espanhol Cercania Jovem, de Ludmila Coimbra e Luíza Santos Chaves, seriam recolhidos porque em uma das páginas havia assuntos relacionados a homossexualidade. "O professor tinha avisado que era por causa do conteúdo", reforça um aluno do 1° ano.

A reclamação de pais sobre a imagem que exibe um casal gay abraçado seria motivo extra para tirar o exemplar de circulação. Mas nesta semana os militares voltaram atrás na decisão. "O professor disse hoje (segunda-feira) que esse negócio de trocar livro não vai mais acontecer. Eles vão manter", afirmou outro aluno do Ensino Médio.

O material em questão faz parte do Programa Nacional do Livro e do Material Didático, fornecido à escola pelo Ministério de Educação e entregue aos alunos gratuitamente. De acordo com a resolução n° 15 do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, é obrigação da escola utilizar o material, mesmo que tenha adotado conteúdo complementar. 

No entanto, o responsável pela escola, o coronel Aluízio Pires Ribeiro Filho, nega a tentativa de recolher os livros, apesar de admitir que homossexualidade é tema vetado durante as aulas e que o material será realmente substituído. Ele confirma a presença de temas relacionados a gênero e sexualidade no livro e considera que esse tipo de assunto não é importante. "Nossa proposta pedagógica evita temas dessa natureza", reforça.

Segundo o comandante, o "Exército Brasileiro tem seu sistema de ensino e sua especificidade, ou seja, esse tipo de discussão não coaduna com a nossa proposta". Na visão dele, a proposta deve ser respeitada e considerada no caso de adoção de livros didáticos.

Para ele, nenhum assunto deve se sobrepor aos valores da instituição militar.  "Não discutimos esse tema, digamos, polêmico. Nosso sistema é de crenças e valores, de civismo, amor a pátria, culto a verdade, responsabilidade, lealdade e pontualidade. Então, discussões dessa natureza, elas vão bem contra a proposta. Ele existe, está no livro sim, mas nós não abordamos em sala", garante.

O Colégio Militar já abriu licitação para compra de outro livro de Espanhol, mas até o momento não há valores do montante a ser gasto com a troca. "Ele está em fase de licitação. Estamos pesquisando, mas não sabemos se vamos solicitar que os pais comprem, como fazemos eventualmente", completa.